O meu prédio é daqueles onde antes morava muita gente bem. De tal forma que cada casa tem duas portas de entrada: uma a sério, outra de serventia. Esses tempos já lá vão, embora se conservem ainda muitas das pessoas que originalmente aqui moravam, os tempos mudaram e as vontades também.
Mas as minhas vizinhas da frente não vão em modas novas. A patroa é a "madrinha", o patrão o "Sr. Comandante" e a empregada mora com eles. Pelo sotaque é das beiras. São todos já muito seniores. A minha senhoria já me tinha dito que eles eram uns amores, mas nunca nada me prepara para ser acarinhada.
Entre o jornal que o Sr. Comandante me empresta para ler e as discussões sobre as notícias e o ficarem com o Tiago na casa deles porque se esqueceu da chave de tal forma constante que lhes dei uma chave cá de casa, já se passou de tudo. Sempre com uma educação, eu diria até ternura, nos comportamentos que é impossível não deixar entrar isso dentro de mim.
Hoje a empregada, que se chama Emília, apanhou-me a chegar a casa vinda da corrida e perguntou-me com vergonha se eu guardava o ramo da Páscoa. Eu não fazia ideia do que ela estava a falar, mas não disse nada. Sorri de volta..e a Emília perguntou-me se me podia oferecer o dela que tinha trazido da missa. Eu disse que sim e agradeci.
Minutos depois toca à porta de ramo na mão e uma felicidade no olhar que não sei descrever-vos pelas palavras. Quando mo deu disse "está benzido".
Tem loureiro, oliveira e alecrim. Também tem bondade, carinho e amizade. E agora é meu.
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