27 de julho de 2015

ser o tiago dá trabalho

Ó mãe depois de tirares o doutoramento podes ser guru?



perder é bom

A Mia tem um jogo que consiste no seguinte: isto é o jogo e quem se lembrar perde. Quando se perde avisa-se os outros que fazem parte do jogo que se perdeu. Estava tão entusiasmada com o jogo no dia que o aprendeu e eu não o percebi nem percebi a piada daquilo.
Hoje fomos passar o final do dia à praia com a Rita e os filhos dela. A Rita é minha amiga desde a escola primária. Um género de irmã mais nova que a vida empurrou para uma manutenção muito espaçada por mensagens e telefonemas ocasionais. As nossas agendas não se curtem. Mas hoje fomos todos à praia. Duas amigas e cinco filhos que não conhecíamos e não se conheciam.
Ficámos até depois do sol desaparecer. Ficámos até depois de convencermos os miúdos a sair da água. Ficámos como se ali fôssemos todas as semanas e aquilo fosse tudo habitual. O bom dos amigos da vida é que a vida não passa por nós.
A certa altura já depois de estarmos lá há umas horas gritei para a Mia "perdi o jogo!"  - Qual jogo? Perguntou ela distraída.
Lembrei-me da tese. Três horas sem pensar absolutamente nada da tese. Três horas sem sentir a culpa de estar na praia deitada numa toalha a olhar para o mar. Três horas com a Rita e os miúdos. A comer os quadradinhos de melão que a minha mãe guardou numa caixa como se a vida fosse aquilo.
Percebi o jogo. A ideia é esquecermo-nos dele e simplesmente vivermos. No jogo da Mia quando se perde transforma-se num carinho entre amigos porque assim que um perde e avisa os outros perdem todos e ficam ali a trocar mensagens e a rir.
No meu jogo da vida só jogo eu e hoje gostei mesmo de o perder.



Nota de rodapé sobre questões de funcionamento.
Desactivei a minha conta de Facebook por onde a maior parte das pessoas que gostam de ler este blogue ficavam a saber das publicações. Tenho recebido mensagens a esse respeito e lamento mesmo muito que de alguma maneira tenha falhado. Ao mesmo tempo fico feliz por descobrir que gostam de nos conhecer. Essa decisão para já não vai sofrer alterações pelo que deixo a sugestão de subscreverem o blogue (podem fazê-lo na barra de rodapé) e assim recebem um aviso no mail cada vez que houver novidades! :)


26 de julho de 2015

baptismus

Aqui há umas semanas o Tiago baptizou-se. Calhou numa altura de cansaço particular e por isso de muito descontrolo e distracção da minha parte. Nem sabia o que era preciso ou se era preciso alguma coisa. Só de véspera percebi que tinha que ser eu a comprar a vela. Liguei a uma amiga conhecedora do assunto e descobri que as velas de baptizar pessoas são para lá de caras. Também mete comprar uma toalhinha que nem queria acreditar quanto custava pelo que me recusei a comprar uma coisa excessivamente cara e com muito excessivamente folhos a mais.
Fui para casa pensar no assunto da toalha já que a coisa era no dia a seguir e lembrei-me de lhe levar o ó-ó dele de quando nasceu. Basicamente é o nome que eu dou às fraldas de pano que os bebés usam ou pelo menos os meus filhos usaram para tudo e mais alguma coisa. Foram todas feitas pela minha mãe e são por isso especiais. Ainda pensei não levar nada porque limpava com a mão e estava a andar mas em boa hora levei o ó-ó. Já vi baldes com menos água...

Não ia nos meus melhores dias. Fui apanhada no meu cansaço e ultrapassada no que esperava que fosse o dia. Tive que comer e calar e aprender uma dura lição. Não posso estar cansada. Não posso perder o controlo. 
Lá fui. 

Quando chegámos a Castelo de Vide com o Kiko a tiracolo  já lá estavam os escuteirinhos todos incluindo o meu! Cansado e meio badalhoco mas com a camisa para dentro e o sorriso de nervoso miudinho. 
Foi tão bonito. Foi especial. Ele quase que chorou e eu também quase que chorei. A igreja cheia de escuteiros criou uma energia muito.....una. E isso sentiu-se. O Tiago entrou para uma nova família e este foi o momento que marcou essa escolha. Nunca pensei que ia viver o baptismo do meu filho desta forma tão intensa e bonita que me deixou a pensar outra vez sobre a fé e o poder que a fé pode ter em unir as pessoas e as tornar parte de algo maior. Fazer parte de algo maior deve ser tão reconfortante!..

O Tiago tomou esta opção por causa dos escuteiros e com os escuteiros. Foi a única coisa que pedi para o seu baptismo. Que o dia fosse dos escuteiros. Foi naquele momento na igreja. E sinto-me grata por isso.







17 de julho de 2015

lentamente o tempo

São quatro da manhã não sei de que dia.
Estou a tentar adormecer ao mesmo tempo que penso nos resultados da regressão que fiz aos dados e na minha vida.
O outro dia alguém me disse que é quando batemos no fundo de nós que encontramos o petróleo. Efectivamente esta é a prova mais dura por que passei até à data, consciente (?) e a viver cada momento. Esta fragilidade em que o cansaço me coloca tornou-me mais lúcida a respeito de mim da minha vida e das opções que fui tomando. Mais lúcida e intolerante aos outros e às suas complacências. Mais seca e dura com as mágoas que recebo. E talvez por isso mais selectiva nas escolhas de a quem dar o meu tempo. Mais atenta_e sôfrega_do verdadeiro e honesto afecto que algumas pessoas me dedicam.
Espero que quando o cansaço finalmente se for embora eu volte a tolerar os outros em geral. Que este cepticismo no olhar e no pensar se vá embora. Que sirva este momento de batida no fundo de mim e de todas as minhas resistências para me tornar numa pessoa capaz de se perdoar por tudo o que já errou e seguir em frente. Que seja este fim o princípio de alguma coisa melhor. O princípio de mim. Exposta a mim própria_finalmente_como sou.




5 de julho de 2015

london calling

Há uma semana estávamos os quatro em Londres.
Muito cansados porque o dia tinha sido gigante e ainda faltava o dia de voltar para Lisboa.
Decidi ir com os miúdos a Londres num dia que aparentemente na minha cabeça fez sentido meter-me neste tipo de aventura estando de rastos. Acho que foi a constatação de não conseguir ir no Verão fazer a muito desejada (por mim) viagem à Grã-Bretanha rural. Reduzi até onde me foi possível e sobrou Londres comprada e vivida em low cost. A escolha do final de Junho foi fácil. Final de aulas deles e era um período de meia paragem na minha vida escolar e no PhD. Lá fomos.
Na véspera perdi o guia que um amigo me emprestou e que não li. Valeu-me já ter lá estado e ter umas ideias do que queria fazer. Escrevi umas notas no meu caderninho e comprei uns bilhetes online. No dia de irmos para casa da minha mãe meti tudo ao molho dentro da mala e esperei não me esquecer de nada. No dia da viagem antes de sairmos para o aeroporto tirei uma foto às páginas das notas só naquela...
Vale-me nestas coisas a grande lucidez de saber que para onde vou não se passa nada de grave e que por isso tudo tem solução.Vale-me também os putos que tenho. Eles sabem que entre todo o histerismo do vamos a Londres, que vamos só nós e que eu só tenho duas mãos. E normalmente essas duas mãos andam a carregar a Madalena às cavalitas. Embirraram muito mais do que eu estava à espera. Muito mais. Acho que foram fazer a descompressão do fim de ano lectivo para Londres. Tive que meter os pontos nos is umas quantas vezes. Loud and clear.

Enquanto lá estive recebi algumas mensagens de pessoas a pedirem para fazer um guia da viagem, de como vou assim à maluca com os miúdos como se faz, onde fui e de que forma me organizei. Epá, não. Desculpem. Mas não sei fazer guias. E se eu contasse como, onde e o que faço provavelmente iria chocar umas quantas pessoas que levam a maternidade demasiado a sério. Ficam só duas ideias de reforço ao meu não: a Madalena dorme em tudo o que é chão e eu não me ralo nada com isso. Os supermercados dos paquistaneses vendem bolachas e sumos fixes.

A saber que em Londres estava demasiado calor, demasiadas pessoas no geral e demasiados portugueses em particular. O mais importante a saber é que estarmos a uma estação de metro do que seja, NUNCA significa que podemos ir a pé. As estações ficam a quilómetros umas das outras. E os transportes são o mais caro da cidade. Ou pelo menos o que não dá mesmo para contornar.
Depois de tratarmos do assunto da casa onde íamos ficar voltámos para o centro e decidi sair na estação do Big Ben sem dizer nada aos miúdos. Consegui acertar com a saída exacta daquilo. A Madalena ia a dormir às cavalitas e por isso perdeu o momento quem que os manos se sentiram em Londres e nem queriam acreditar. Valeu logo ali termos ido.

A partir dai com muito cansaço à mistura e sem nunca arranjarmos um mapa decente porque os decentes pagavam-se e os gratuitos tinham filas enormes, até nos safamos bastante bem. Eu tinha ideia antes de ir que passaríamos as tardes em preguiça pelos parques de Londres. Mas não. Esquece. Aquilo é grande demais e os miúdos estavam determinados a não deixar escapar nada.

Eu queria ir a três sítios: ao Sky Garden, ao Holland Park ver o Kyoto Garden e, claro, a Notting Hill. Eles queriam ir ao resto. Rigorosamente o resto TO-DO. Todos os centímetros do resto. Mesmo que morrêssemos a seguir. Foi uma viagem intensa, um cartão de visita de Londres, bastante distinto dos passeios rurais e vagarosos que já fizemos. Londres é gigante e acontecem nela milhares de coisas ao mesmo tempo. É uma cidade que engana. Não é tão bonita quanto Paris e parece que é só ir picar o ponto a dois ou três spots, mas quando nos apercebemos estamos envolvidos na sua teia de opções de coisas a acontecer e ou somos selectivos ou rápidos. Os miúdos escolheram ser rápidos. Eu tentei acompanhar e morri todos os dias que me deitei na cama e assim que entrei no avião para Lisboa. Eles só perceberam o cansaço quando chegámos a Portalegre. Dormiram sem fim e não queriam sair de casa.

Ir a Londres sozinha com crianças não é para meninos. Fica o aviso.
Sobra a pergunta porque vou e porque os levo. A isso posso responder. Porque é com quem mais gosto de viajar e porque as memórias os afectos e os laços que ficam destas aventuras são indestrutíveis. E essa é a verdadeira imortalidade.