Há uma semana estávamos os quatro em Londres.
Muito cansados porque o dia tinha sido gigante e ainda faltava o dia de voltar para Lisboa.
Decidi ir com os miúdos a Londres num dia que aparentemente na minha cabeça fez sentido meter-me neste tipo de aventura estando de rastos. Acho que foi a constatação de não conseguir ir no Verão fazer a muito desejada (por mim) viagem à Grã-Bretanha rural. Reduzi até onde me foi possível e sobrou Londres comprada e vivida em low cost. A escolha do final de Junho foi fácil. Final de aulas deles e era um período de meia paragem na minha vida escolar e no PhD. Lá fomos.
Na véspera perdi o guia que um amigo me emprestou e que não li. Valeu-me já ter lá estado e ter umas ideias do que queria fazer. Escrevi umas notas no meu caderninho e comprei uns bilhetes online. No dia de irmos para casa da minha mãe meti tudo ao molho dentro da mala e esperei não me esquecer de nada. No dia da viagem antes de sairmos para o aeroporto tirei uma foto às páginas das notas só naquela...
Vale-me nestas coisas a grande lucidez de saber que para onde vou não se passa nada de grave e que por isso tudo tem solução.Vale-me também os putos que tenho. Eles sabem que entre todo o histerismo do vamos a Londres, que vamos só nós e que eu só tenho duas mãos. E normalmente essas duas mãos andam a carregar a Madalena às cavalitas. Embirraram muito mais do que eu estava à espera. Muito mais. Acho que foram fazer a descompressão do fim de ano lectivo para Londres. Tive que meter os pontos nos is umas quantas vezes. Loud and clear.
Enquanto lá estive recebi algumas mensagens de pessoas a pedirem para fazer um guia da viagem, de como vou assim à maluca com os miúdos como se faz, onde fui e de que forma me organizei. Epá, não. Desculpem. Mas não sei fazer guias. E se eu contasse como, onde e o que faço provavelmente iria chocar umas quantas pessoas que levam a maternidade demasiado a sério. Ficam só duas ideias de reforço ao meu não: a Madalena dorme em tudo o que é chão e eu não me ralo nada com isso. Os supermercados dos paquistaneses vendem bolachas e sumos fixes.
A saber que em Londres estava demasiado calor, demasiadas pessoas no geral e demasiados portugueses em particular. O mais importante a saber é que estarmos a uma estação de metro do que seja, NUNCA significa que podemos ir a pé. As estações ficam a quilómetros umas das outras. E os transportes são o mais caro da cidade. Ou pelo menos o que não dá mesmo para contornar.
Depois de tratarmos do assunto da casa onde íamos ficar voltámos para o centro e decidi sair na estação do Big Ben sem dizer nada aos miúdos. Consegui acertar com a saída exacta daquilo. A Madalena ia a dormir às cavalitas e por isso perdeu o momento quem que os manos se sentiram em Londres e nem queriam acreditar. Valeu logo ali termos ido.
A partir dai com muito cansaço à mistura e sem nunca arranjarmos um mapa decente porque os decentes pagavam-se e os gratuitos tinham filas enormes, até nos safamos bastante bem. Eu tinha ideia antes de ir que passaríamos as tardes em preguiça pelos parques de Londres. Mas não. Esquece. Aquilo é grande demais e os miúdos estavam determinados a não deixar escapar nada.
Eu queria ir a três sítios: ao Sky Garden, ao Holland Park ver o Kyoto Garden e, claro, a Notting Hill. Eles queriam ir ao resto. Rigorosamente o resto TO-DO. Todos os centímetros do resto. Mesmo que morrêssemos a seguir. Foi uma viagem intensa, um cartão de visita de Londres, bastante distinto dos passeios rurais e vagarosos que já fizemos. Londres é gigante e acontecem nela milhares de coisas ao mesmo tempo. É uma cidade que engana. Não é tão bonita quanto Paris e parece que é só ir picar o ponto a dois ou três spots, mas quando nos apercebemos estamos envolvidos na sua teia de opções de coisas a acontecer e ou somos selectivos ou rápidos. Os miúdos escolheram ser rápidos. Eu tentei acompanhar e morri todos os dias que me deitei na cama e assim que entrei no avião para Lisboa. Eles só perceberam o cansaço quando chegámos a Portalegre. Dormiram sem fim e não queriam sair de casa.
Ir a Londres sozinha com crianças não é para meninos. Fica o aviso.
Sobra a pergunta porque vou e porque os levo. A isso posso responder. Porque é com quem mais gosto de viajar e porque as memórias os afectos e os laços que ficam destas aventuras são indestrutíveis. E essa é a verdadeira imortalidade.
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