29 de agosto de 2015

deusmalivre

A Madalena tem piolhos numa média semanal. Basta sair à rua e alguém num raio de 150 km ter piolhos que ela traz todos para casa. Deve estar referenciada no Top 10 dos sites de turismo dos piolhos como um spot imperdível.
Penso que é essa a razão de nós nunca termos apanhado piolhos cá em casa.
Nunca e ninguém. Excepto eu.
Claro.

Facto 1
Nunca tinha tido piolhos na idade adulta e não me lembro de como era tê-los em criança ou sequer se cheguei a ter alguma vez. Mas fiquem sabendo que acordei de madrugada com comichão e a sensação de haver ratos a comer-me o cérebro. Desde então que sinto piolhos na minha cabeça todos os minutos de todos os dias.

Facto 2
Esta doença auto-imune palerma que tenho faz-me ter feridas no couro cabeludo em períodos de stress. Não há grande coisa a fazer. Lavo o cabelo com um champô especial mas tenho que não coçar as feridas para elas sararem.

Facto 3
Tenho que ter a tese terminada na segunda-feira.


Agora é só juntarem os 3 factos e imaginarem o estado em que está a minha cabeça.  --'



25 de agosto de 2015

less is more*

Este foi o verão com a pior planificação de que há memória e onde o pouco que ainda foi planificado não aconteceu. O PhD por questões familiares foi interrompido inesperadamente antes de ser concluído. A road trip planeada às três pancadas não foi cumprida por quase total falência mental da mãe desta casa. A semana sem fazer absolutamente nada imaginada como um silêncio total dentro das portas de casa foi uma realidade barulhenta dos filhos que eram para estar noutro sítio. Cada vez que se iniciava uma embirração eu começava a frase "eu era" e eles completavam em coro "para estar de férias!".
Pois. Só que não.
Acho mesmo que desde que moro em Portalegre nunca tinha passado um Agosto inteiro cá.
E bom que foi? Surpreendentemente suave, calmo, preguiçoso, quieto. Bom.
Não estaria tão bem em nenhum outro lugar e conseguir perceber isso é fantástico.
Parei. Fui forçada a isso. Pelos outros e também por mim própria. Não consegui mais, fazer mais, pensar mais. Ir onde quer que seja. Só a palavra "ir" me soa a tormento. Ir ali ao fundo da rua. Ir às compras. Ir à piscina. Tudo movimentos que precisam de estímulo externo e são iniciados com dificuldade e depois precisam de pelo menos um dia de recuperação.
Parei. Pensei que estava tudo perdido. E depois a malta apareceu.
Vieram amigos estar comigo que nunca tinham cá vindo desde que aqui estou. Fui ao Andanças com a Rita! Amigos em passagem que apareceram para um café ou ficar uma noite entre lambrusco e palavras. Pessoas que são as minhas há tantos anos e que vieram. Os amigos de cá chamaram-me a momentos muito bons.
Porque eu cá estava. Porque eu parei.
Hoje fui à piscina municipal com os meus sobrinhos. Estes sobrinhos são da parte da Madalena. O Afonso quase da idade do Tiago e o Francisco da idade da Madalena.
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Pequena paragem para dar à piscina municipal o carinho que merece:
Morar na província é aprender a não querer fazer coisas e saber que as coisas se vão fazendo. Morar no Alentejo é saber que a vida sempre acontece mas no ritmo que o Alentejo decidir dar às coisas. O Alentejo é um lugar que se faz difícil de conhecer. Que exige a aprendizagem da espera. Um dia quando deixamos ir a ansiedade de querer fazer agora percebemos que tudo se vai fazendo e que desta forma as coisas se colam a nós. São nossas e nós das coisas.
A piscina municipal é feia. E é má. O chão queima os pés. A prancha dos 10 metros está fechada porque há-de ruir um dia destes. A prancha dos 5 metros é de betão. Só para dar alguns exemplos.
A piscina municipal é um sítio nosso e eu acredito que preciso lá ir muitas vezes com os miúdos para passar a ser deles. Tomar o seu tempo queimar os pés e ouvir alguém a dizer que chegou o Zé das bombas.


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Continuando.
Quando voltámos vinha que não podia com dores nas costas. Morta de todo. Deitei-me um bocado na cama a ver se me passava a entorse. Estava dada. Os putos largados na sala a destruí-la. Quero lá saber. Era aí que estava quando recebi a tua mensagem Patrícia. E passou-me logo tudo. A minha amiga desde que me lembro. Que a vida já levou e já trouxe e já voltou a levar estava cá. Aqui onde eu moro. Eu fui esplanar com a Patrícia os filhos o marido e os pais dela ao Tarro. Caramba pá.
Subi a rua entrei em casa e sentei-me na varanda a olhar. A pensar que ainda bem que não saí daqui o Verão todo. A vida trouxe-me tudo o que eu precisava ter agora. O conforto das pessoas que cuidam de nós simplesmente porque existem porque nos chamam e nos têm no seu coração.
O tempo parece-nos sempre tão finito, breve, implacável. Mas às vezes lembra-nos que também pode ser infinito, profundo, frágil quando temos o coração nas mãos dos que nos amam. E pára. O tempo pára. No dia em que a Patrícia se esbardalhou para cima do carro da minha mãe na minha garagem porque andávamos a tentar chegar às caixas lá de cima (este episódio levou a uma sucessão altamente ridícula de acontecimentos que vão continuar a ser privados). Hoje quando a mãe dela se lembrou desta história e nos partimos a rir ali na esplanada do Tarro a 100 passos da minha casa passou-me a infância toda pelo corpo e senti-a na pele. O tempo parou.


Um resumo do que foram as nossas férias, entre o Andanças, Badajoz, Castelo Branco, Campo Maior, esticões a levar malta ao sudoeste e muitas outras coisas que não ficaram em fotos porque não houve vontade de guardar de outra maneira além do momento.
Amanhã o meu tutor vem almoçar comigo e estão lançados os 2000 metros obstáculos. Entenda-se despachar filhos para algures e acabar aquela merda. Fim de Verão.


*A Mia está num intercâmbio internacional e por isso não esteve connosco hoje. O tema é "less is more". Disseram que durante 12 dias iam ensinar-lhes o que é isso de menos ser mais. É isto filha.