31 de março de 2015

homenzinho

Relatório das férias do Tiago:
Sofá, TV, tablet, dormir horas infinitas como se estivesse morto.
Fim de relatório.





30 de março de 2015

no common sense whatsoever

Cheguei hoje à conclusão_talvez mais à aceitação_de que já não sou bem uma pessoa. Isto considerando a versão actual do que é ser uma pessoa.
Embora eu sempre tenha sido demasiado honesta ou transparente _eufemismos para exagerada e inconveniente_ na minha maneira de interagir com os outros, actualmente não consigo sequer saber como se faz isso de lidar com as outras pessoas e dou por mim a admirar outros adultos que sabem ser adultos. Quero eu dizer, sabem manter conversa e ser agradáveis, não esticando muito a corda dos limites sociais. Sabem não ser desconfortáveis, mas apenas levemente engraçados. Sabem fazer jogos sociais por meio de crenças que aparentam ser bastante consensuais.
Actualmente a minha espontaneidade está muito activa e bastante desajustada dos limites considerados legais. As pessoas parecem-me cada vez mais estranhas na sua maneira de actuar, sempre tão vagas, escorregadias, na defesa e cheias de códigos e entrelinhas que supostamente são fáceis de descodificar. Na maioria das vezes nem consigo sequer manter-me concentrada quando falam comigo e raramente sei o que devo responder e depois, lá está, aparento ser alguém um tudo ou nada desinquietado. Na verdade, nem me interesso muito por ter senso comum, mas gostava de parecer que tenho. 
É isso. 










29 de março de 2015

vizinhança

O meu prédio é daqueles onde antes morava muita gente bem. De tal forma que cada casa tem duas portas de entrada: uma a sério, outra de serventia. Esses tempos já lá vão, embora se conservem ainda muitas das pessoas que originalmente aqui moravam, os tempos mudaram e as vontades também.
Mas as minhas vizinhas da frente não vão em modas novas. A patroa é  a "madrinha",  o patrão o "Sr. Comandante"  e a empregada mora com eles. Pelo sotaque é das beiras.  São todos já muito seniores. A minha senhoria já me tinha dito que eles eram uns amores, mas nunca nada me prepara para ser acarinhada.
Entre o jornal que o Sr. Comandante me empresta para ler e as discussões sobre as notícias e o ficarem com o Tiago na casa deles porque se esqueceu da chave de tal forma constante que lhes dei uma chave cá de casa, já se passou de tudo. Sempre com uma educação, eu diria até ternura, nos comportamentos que é impossível não deixar entrar isso dentro de mim.

Hoje a empregada, que se chama Emília, apanhou-me a chegar a casa vinda da corrida e perguntou-me com vergonha se eu guardava o ramo da Páscoa. Eu não fazia ideia do que ela estava a falar, mas não disse nada. Sorri de volta..e a Emília perguntou-me se me podia oferecer o dela que tinha trazido da missa. Eu disse que sim e agradeci.
Minutos depois toca à porta de ramo na mão e uma felicidade no olhar que não sei descrever-vos pelas palavras. Quando mo deu disse "está benzido".
Tem loureiro, oliveira e alecrim. Também tem bondade, carinho e amizade. E agora é meu.



timeline iv









posso voltar a sexta?

A minha casa não é bem uma casa. É uma espécie de Centro de Organização de Eventos. Acontece tanta coisa ao mesmo tempo, ou perfeitamente encadeadas umas nas outras, que não há qualquer possibilidade de eu sair disto a bater bem. Empresas que procuram pessoas multitasking, estou aqui!
Na sexta fui buscar o Tiago a meio caminho da casa da avó, porque tinha acampamento nessa noite. Entretanto,  nesse mesmo dia chegou a Maya, uma francesa que veio cá ficar dois dias em couchsurfing. Sábado passeámos a Maya e ainda fui ver o meu afilhado a jogar à bola. Hoje a alvorada foi bem pela fresca para ir levar as miúdas ao expresso para uns dias na avó e a Maya foi embora. Estou sozinha a fazer o follow up do evento (leia-se arrumar as tralhas). Logo de tarde chega o Tiago do acampamento e logo depois eu vou correr com a Diana. E pronto. Fim de fim-de-semana sempre a abrir e na curva da segunda-feira já lá vejo a tese à minha espera.


A Maya apelidou a Madalena de Tarzan. Percebeu-lhe bem a essência! 




A emoção da primeira viagem de expresso da Madalena! Ainda há poucos anos a Mia e o Tiago iam de expresso acompanhados por uma aluna minha e agora já é a Mia que desempenha esse papel! 

24 de março de 2015

vai dar banho ao gato

A Clarinha amou a sua primeira banhoca.
Aliás é visível no ar bem disposto com que está na foto.


22 de março de 2015

alice

A propósito deste artigo e a propósito da minha vida toda, o que é uma família?
Na verdade a minha família de origem foi uma mãe, uma avó e um irmão. Comecei logo, como se dizia à época, disfuncional. O meu pai morreu tinha eu 4 anos e a minha avó veio morar connosco. Com a família desinteressada do meu pai ali mesmo perto de nós, quem me criou foi a minha mãe, que fez de mãe e de pai e que fez tudo com tanta aparente normalidade que eu nem dei pelo esforço que estava ali a acontecer todos os dias. E foi a minha avó, uma velhota alentejana, que me ensinou a ser alentejana e a olhar sempre para o lado bom das coisas. Na escola, quando era dia do pai, punham-me de parte a fazer desenhos para o meu irmão. E eu virava mesas ao contrário, saia de salas com professores a correr atrás de mim a fazer ameaças que nunca chegavam sequer a entrar no meu sistema de processar o que vem de fora.
Cresci sem pai. Cresci sem saber do que ter saudades. O dia mais duro do ano é sempre o 19 de Janeiro. Tenho optado por o ignorar. Às vezes opto por fazer as contas de quantos anos, quantas datas, quantas ausências, números que perdi. Não perdi. Não cheguei a ter. E talvez outro dia eu vos fale do quanto isso moldou, e continua a moldar, as minhas decisões.
O certo é que essa dor, talvez tenha sido essa dor, que me fez fazer quase tudo o que fiz na vida quando o assunto é família.

Entretanto cresci, veio o amor. E o amor trazia um filho com dois anos. Dois minúsculos anos para os meus 20 e poucos. Fui madrasta. Fui mãe do Gui, quando o Gui estava com o pai. Fui mãe do Gui de cada vez que tomei conta dele, o eduquei, o ensinei, o amei. Continuo a ser. O laço que criei com ele é indestrutível e poucas pessoas compreendem isso. Menos ainda o aceitam. Na altura, diziam que era porque era filho do pai dele e eu estava a desempenhar o papel esperado. Se eu fazia bem ninguém via, mas se eu fizesse menos bem, todos os dedos apontavam. Os deveres de mãe estavam presentes, os direitos nunca. Como eu dizia, o postal do dia da mãe nunca era para mim.
Depois veio a Mia e o Tiago e o fim dessa relaçao. E começou ai a minha luta pelos meus direitos de continuar a ser mãe emprestada do Gui.  Lidei directamente com a mãe dele, uma pessoa com quem não tinha quase nenhuma relação e a que tinha não era grande coisa. Hoje somos amigas. O Gui faz 19 anos para o mês que vem. E eu continuo a ser a madrasta dele.
Depois outra vez o amor e veio a Madalena e outra vez o fim.

A minha primeira gravidez, não foi a nossa primeira vez. A minha primeira filha, não foi a nossa primeira filha. Tudo o que eu andava a aprender, o pai sabia de cor. Quando o Tiago nasceu, a Mia era a filha do meio e também a mais velha. O Gui é filho único de um lado e tem 3+1 irmãos de outro. Quando foi a Madalena, era a primeira do pai e a minha terceira. A árvore geneológica ficou ainda mais complicada.
Os laços perduraram. Fortes. Presentes. Quotidianos.

Que família é esta? Quem somos?
Os pais dos meus filhos têm as tais famílias recompostas. Vivem com alguém e tiveram filhos com essas pessoas. E essas mulheres tratam dos meus filhos quando os meus filhos estão lá. Acarinham, dão colo e ralhetes. Educam. Amam. Aceitam que foi assim que aconteceu.
Os pais dos meus filhos são a área mais sagrada da minha vida. São intocáveis. Vivem dentro de redomas. Só eu posso praguejar sobre eles quando me zango. E mesmo assim os protejo. O pai que eu não tive é o maior direito que os meus filhos têm.

E quem sou eu nisto tudo?
Alguém emocionalmente agitada. Alguém com muitas lutas interiores. Alguém que não é impulsionada pelas consensuais normas sociais. Alguém que acha que um dia ainda é bem capaz de encontrar o amor num banco de jardim. Alguém que sabe a improbablildade disso vir a acontecer. Uma pessoa comum. Gente normal. Apenas uma história com ciscunstâncias particulares. Que talvez sejam fora do aceite como normal para não dar trabalho a pensar.

Na verdade ninguém leva uma vida normal. Todos lidamos com as nossas ciscunstâncias particulares.
A família pode ser composta por mais pessoas. Muitas. Pode -se amar e pode haver espaço para amar quem não é nosso biológicamente mas se tornou nosso por afecto. Porque a vida nos deu essa possibilidade e nós a aceitámos. Mas nisso, como em tanta coisa, Portugal está só a começar. Eu sei isso. Sinto-o na pele diariamente. O preço das escolhas diferentes é muito elevado.
Claro, mais vale tarde que nunca. Mas eu tenho 38 anos, faço parte de familias disfuncionais, não tradicionais, monoparentais, diversas ou qualquer outro nome que lhes queiram dar há 34. Para mim, já vêm tarde. É até uma vergonha que continuem apenas a discutir o assunto, como se não houvesse urgência no amor.



21 de março de 2015

rest in peace

A Madalena foi ao hospital na sexta-feira e foi um fartote de rir. A maneira como ela dizia "espera, espera, espera" à enfermeira antes de tirar o sangue para as análises merecia ser gravado. Aliás, eu ando a ver se a apanho a jeito numa birra do fim do mundo para a gravar.
A pediatra exigiu o cessar imediato da chucha e ela ficou tão comprometida que acatou e finalmente acabou-se aquela coisa de borracha mal-cheirosa cá em casa. Quando nasceu nem a queria ver à frente, berrava livremente durante intermináveis horas e agora não a queria largar por nada.
Contrariamente ao Tiago ou à Mia, este passo de emancipação da Madalena está-me a custar horrores. Recuso-me a aceitar que ela vai para a escola primária em Setembro e acho que no fundo me custou mais a mim que a ela o fim da chucha. São só evidências....a minha última bebé cresceu. Fim de festa. Arrumem os balões.
Qualquer dia nem Barbies tenho em casa e isso entristece-me profundamente.
Não quero com isto dizer que não vivo com o mesmo entusiasmo todas as idades, porque vivo e acho piada a tudo o que fazem (excepto as embirrações) e acompanho da mesma maneira próxima o que cada um faz. Claro que o conceito de próximo é bastante diferente aos 6, 11 ou 14 anos. Pelo menos o Gui já me ensinou que aos 18 volta a mudar e o próximo volta a ser mais próximo.
Mas o carro vassoura é sempre o fim de festa. E é isso.
Ainda mora no quarto do Tiago uma caixa cheia de carrinhos, uma pista de comboios, as pistolas laser do Ben10 e as tartarugas Ninja, porque teimo em fingir que ele ainda brinca com aquilo.
E agora a Madalena larga a chucha. Caramba pá.

18 de março de 2015

piiiiiiiiiiiiiiiiiii

Às vezes é mesmo muito frustrante ter filhos adolescentes e não conseguir penetrar na camada de estupidez que parece que se cola à pele deles.
Dias difíceis para todos. Para eles também, mas educar é um caminho que se faz e às vezes aparecem subidas íngremes ao meio-dia de um dia de muito sol. 
Aquela cena da parentalidade positiva e o cuidado na palavra e na emoção e blá  blá  blá só pode ser uma cena de malta com dinheiro e/ou quem lhes crie os filhos e/ou sem emprego e/ou sem emprego em que seja preciso pensar muito.
Pronto. É  isso.


sobre orar em sítios públicos

Hoje fui orar nas Jornadas da Comunicação da Escola Superior de Educação, que pertence ao Politécnico de Portalegre. Já lá fui umas vezes fazer apresentações ou participar em painéis, mas desta vez fui mesmo só orar livremente sobre Figuras Públicas na Publicidade. O outro convidado anulou a participação em cima da hora e o que era para ser um debate transformou-se num monólogo sem fim. A malta da ESE descobriu que eu não me calo e pego assuntos uns nos outros.

(A foto é da Chris Relvas. Esta tipa não me larga. Alguém me ajude.) 


17 de março de 2015

factos

A Ana comecou a correr e por causa disso deixou de fumar.
No dia a seguir a correr 10 km seguidos sem parar para respirar foi comprar equipamento especial de corrida.
A Ana estava mal do joelho. Entretanto ficou pior.
Amanhã vai orar às Jornadas da Comunicação nestes preparos mas antes vai dar com força no Voltaren.
Acho que amanhã a Ana volta a fumar.


agenda

Conseguir tempo para actualizar o blogue tem sido muito complicado. A agenda está a mil à hora entre filhos, eventos de filhos, escola e eventos de escola. O doutoramento arde em lume brando.

Este fim de semana fomos à cidade grande visitar a avó Cila e aproveitámos para fazer uma das coisas que mais gostamos: passear em Lisboa como se não fosse nossa.
E são sempre dias garantidos. Os miúdos adoram os passeios pelintras que invento. No regresso fiquei mesmo com convicção de continuar a apostar na vadiagem. Demos boleia a um amigo e eles vieram o caminho todo a falar animadamente das nossas aventuras pelos países que já visitámos e lembravam-se de pormenores incríveis. O Tiago, que na época tinha uns sete anos, descreveu com todo o pormenor o museu mais fantástico que já visitámos. Fica em Salzburgo e é este. Entrámos lá por acaso a fugir da chuva e ficámos todo o dia.
Acho que vou repescar essas fotos e essas memórias para as guardar por aqui.

Desta vez fomos ao Largo do Carmo para contar o 25 de Abril. A minha mãe é muito boa a contar história de Portugal e os miúdos adoraram a história da bala que foi parar a uma parede do Teatro da Trindade! Entretanto, apeteceu-nos ver as ruínas do Convento do Carmo, que são DE-MAIS (mete múmias do Perú e tudo) e depois fomos ao Mude. Íamos com intenção de ver as exposições em si, que são bem fixes, mas o que gostámos mesmo foi de ver as instalações do antigo BNU e a sala dos cofres.
Como berrei que me fartei no Mude, farta das embirrações das criaturas, decidi deixá-los ir sozinhos ao cimo do arco da Rua Augusta. Aliás, se tenho ido com eles ainda os atirava de lá para baixo.
Não dá mesmo para saltar a adolescência?






O Gui foi ter connosco (o irmão mais velho da Mia e Tiago e padrinho/irmão emprestado da Madalena, conforme anteriormente explicado aqui). Para quem não conhece é esta pessoa:



 Giro, hm?  ;)


15 de março de 2015

das pessoas que são minhas

Há pessoas que são minhas e eu sou delas. Sem palavras ditas que se ouvem porque existimos uma na outra. Há pessoas que são minhas porque me fazem bem sem fazerem nada. Há saudades que não passam e lamentos de distância que aprendemos a aceitar como as regras do jogo desta coisa chamada vida.

12 de março de 2015

esta gente, pá!

O melhor spot da minha escolinha é o GC. Compõe-se essencialmente por três pessoas que não jogam com o baralho todo.
Às vezes recebe visitas de pessoas importantes, como a Susana aluna de Design que vai lá fazer trabalho escravo e também andam por lá bloggers famosas. É preciso dar um certo nível aquilo.

vida académica

Adoro as quintas-feiras após o tribunal de praxe.

os azeitonas

Uma das coisas boas de morar na província é a pertença. Gosto de sentir que faço parte de alguma coisa. Que pertenço a este lugar e que este lugar também já me pertence. Ter histórias, laços criados com pessoas que antes me eram estranhas, anos seguidos cheios dos nadas da vida, anos seguidos sem dar conta que estamos a fazer parte uns dos outros e a construir coisas para contar mais tarde. Para guardar.
Isto tudo porque ontem esbarrei nesta foto:



Estas duas peças são a Madalena e a sua melhor amiga, a Margarida.

Demorei-me na foto e até salvei uma cópia para o ambiente de trabalho. Primeiro ri-me porque estas criaturas, juntamente com outras chamadas Leo, Tiago e Leonor partem a loiça toda e fazem a cabeça em água à educadora. Mas essa história fica para outro dia. Depois enterneci-me. Muito.
A Margarida é a irmã do melhor amigo do Tiago, o Francisco, mais conhecido por Kiko. Estes dois estarolas são inseparáveis desde o berçário. Quando entraram para a escola primária, o Francisco era para ir para outra escola e disse à mãe que se não ficasse com o Tiago não queria ir para a escola. Esta amizade tem sobrevivido às escolhas que cada um tem feito na sua vida e que têm sido bastante diferentes. Por exemplo, o Kiko anda na bola e o Tiago saiu de lá e foi para os escuteiros e por nem querer pensar que o amigo não fazia parte disso, convidou-o para padrinho dele na promessa. Aqui estão os cromos. Esta foto já tem uns anos, mas adoro-a, é no primeiro dia de aulas do 3ºano:




Da cabeça destas duas criaturas sai toda a espécie de parvoíce mais improvável e por mais que discutam, nunca se largam. O Kiko é uma espécie de outro filho que eu tenho. Ele chama-me sempre Ana Cila com aquela voz grossa, contrária ao tamanho que tem. Está sempre a reclamar e a pensar em voz alta, mas eu já aprendi a dar-lhe a volta!
A melhor, ou pelo menos mais terna história desta amizade, tem a ver com a Madalena e a Margarida. Quando eu fiquei grávida da Madalena, o Kiko desenvolveu uma grande campanha junto dos pais para deixar de ser filho único e quando levou a sua avante e soube que ia ter uma irmã, disse à mãe que tinha que se chamar Margarida como a mana (mais velha) do Tiago. E assim foi.
Entretanto, a Madalena e a Margarida encontraram-se na mesma turma por uma nesga muito pequena. A Madalena era para ter nascido antes do ano acabar e a Margarida nasceu já no Verão. E entre tanta criança com quem podiam ter desenvolvido uma empatia especial, tornaram-se as melhores amigas. Curiosamente, a educadora é a mesma que esteve com o Tiago e com o Francisco!

Eu não conhecia a família dos Azeitonas antes do Kiko se ter tornado amigo do Tiago. Conhecemo-nos por causa deles e desenvolvemos também uma amizade por causa deles, que nos levaram a reboque para as vidas uns dos outros. E hoje, depois de tantos anos cheios de pequenas histórias, pertencemo-nos.



11 de março de 2015

prendinhas

Hoje recebi um mail com uma prenda!  :)
Dizia que "na ReusePic, estamos completamente rendidos às aventuras da família do Amote sem tracinho. Tão rendidos que decidimos partilhar os nossos stickers convosco!"
Yeahhh!!  :)
E basicamente querem oferecer-nos uns autocolantes que colam, descolam e voltam a colar.
Fiquei mesmo contente porque eu tinha visto isto no SBSR e achei a ideia muito engraçada.
O mais difícil vai ser negociar com as crias que fotografias vamos escolher.

Gostei mesmo de receber o mail, era completamente personalizado, o que para alguém que passa a vida a converter as almas ao marketing foi uma surpresa mesmo boa. Acabava assim:
"Agora é só esperar! Ana, podes dedicar-te ao doutoramento, as crianças podem ir para as aulas ou brincar e a Clarinha pode dormir, os stickers vão ser enviados para vossa casa!
Espero que gostes!
Se tiveres alguma dúvida ou só quiseres relaxar das crianças, do doutoramento ou da gata, podes enviar-me um e-mail!
Boas aventuras."

Assim não me importo de fazer um bocadinho de product placement no meu blogue e dizer-vos para espreitarem aqui os stickers.

Só não achei muita piada a que não soubessem que não sou particularmente fã dos produtos da maçazinha e no exemplo que mandaram lá estava a suposição que a malta só curte de iPhone!  Hmpf.


temos artista

O artista teve Muito Bom na caixa idealizada e executada pelo próprio durante uma tarde muito longa e Bom+ no cartaz que já só aconteceu durante a noite.
Quando acabou ficou de péssimo humor e a queixar-se da vida até já ninguém o conseguir ouvir, mas hoje acho que descobriu que vale a pena esforçar-se um bocadinho uma vez por outra.




Entretanto, a Madalena chegou do teatro e ficou super entusiasmada com o que se passava. Sentou-se logo a fazer o seu cartaz do Dia Mundial da Árvore.






10 de março de 2015

boas vidas

Quase no final do 1º período o Tiago chegou a casa com a notícia de que ia ter 2 à disciplina que tem um nome que eu não sei qual é, mas que tem a ver com trabalhos manuais. Não foi surpresa, mas quando fui perceber a razão, tinha a ver com ele não ter feito nenhum, repito, nenhum trabalho dos que devia ter feito. Levou um enxovalho dos grandes, que primeiro eu mando vir e só depois faço perguntas.
Na fase das perguntas, percebi que afinal os trabalhos que ele não fez, deviam ter sido feitos em casa. Pois. Casa. Como quem diz, o sítio onde ele mora, dorme e assim.
Na escola ele não soube bem explicar o que fazia. Porque nesta disciplina ele não faz, sobrevive.
Mas ainda havia esperança! Se levasse os trabalhos todos feitos após o fim-de-semana, a professora dava-lhe um três. Boa!
Um pequeno senão, o Tiago é uma nódoa nessa disciplina. Segundo senão, eu consigo ser pior que ele. Terceiro senão, ele ia de acampamento com os escuteiros nesse fim-de-semana.
Mas OK. Eu sou uma pessoa muito motivada. Era preciso fazer um presépio com material reciclado, decorar uma bola de esferovite para a árvore de natal, montar e fazer um tear daqueles que depois dá para fazer malas e assim e fazer algo em barro. Pouca coisa, portanto.
Liguei a outra mãe que me explicou como se fazia o tear e no que consistia o tal do presépio e onde se comprava a bola. O Youtube ensinou-me a fazer um elefante em barro, que ficou tão lindo que até o pintei com o cinzento dos ferros da varanda. Mas afinal não era um elefante, era um cesto. Fiz o cesto.
O tear, fizemos todos. Madalena incluída. Passar a agulha um em cima outro em baixo não tem grande ciência. A bola fiz eu, o presépio também.
A Mia reclamou que não era justo que ele devia ter negativa para aprender. Mas, aprender o quê? Aqui em casa ninguém sabe da arte para lhe ensinar e, pelos vistos, na escola também não.
Ao contrário de muitas mães que juram a pés juntos que foram os filhos que fizeram aquelas instalações dignas de estar em Serralves, eu assumo que sou eu que faço (ou tento). Aliás, a professora deve saber isso, só pode fingir que não vê ou não sabe. Ou não quer saber, quer mesmo é que não a chateiem. Era impossível ter sido o Tiago fazer alguma daquelas coisas, com a qualidade ainda que medíocre que as coisas tinham, claramente não havia a menor possibilidade de ter sido o Tiago a fazê-las.
Lá teve três.
E eu pensava que tinha acabado, que agora já era na escola que lidavam com a coisa.
Claro que não.
Desta vez, o Tiago desenvolveu a habilidade de me avisar em tempo útil sobre as coisas que tem que fazer "em casa" e levar feitas para a escola. Hoje, levei o cartão duplex que comprei o outro dia para a minha escola e uma amiga minha de design cortou-o e dobrou-o para fazer a caixa que ele tinha que fazer e ainda lhe desenhou a esquadria que era preciso fazer num A3 para o cartaz. Afinal, chego a casa e não era uma esquadria, embora diga esquadria na "Ficha Informativa e de Trabalho". Era só mesmo uma moldura com margem de 1 cm. A professora deve ter achado que seria mais intelectual chamar-lhe esquadria.
O mais giro da Ficha Informativa e de Trabalho é que tem imagens ilustrativas que não se percebe o que lá está e diz coisas como "O método de resolução de problemas, que é composto por 5 etapas: problema, investigação, projecto, realização, avaliação."
Podia acrescentar a seguir, "mas não me apetece explicar o que é isso e o que compõe cada uma das etapas, por isso levem esta ficha e os vossos pais, que não têm mais nada para fazer, nem nenhuma outra profissão, nem mais filhos, nem se interessam por estar e brincar convosco, que se desenrasquem."

E esta tarde, enquanto estou a tentar terminar uma parte importante do doutoramento, porque tenho prazos e coisas dessas a cumprir, estou aqui com o Tiago a mandar vir com o método (só a palavra método ao lado de palavra Tiago já tem a sua piada) dele para decorar o raio da caixa e a ver se o convenço a fazer o cartaz enquanto lhe dou uma aulinha sobre elementos publicitários mas, apenas e só, porque calha a ser a minha área. Os outros miúdos devem fazer um desenho qualquer manhoso, que serve na mesma, porque o que importa é atirar bastante areia para os olhos da Srª Professora. Aprender fica para outra oportunidade.

Entretanto o Tiago foi fazer para o quarto que eu já estava cheia de brotoeja. Voltou quando percebeu que sozinho não ia a lado nenhum, ouviu a explicação, trocámos ideias, expliquei o método, mensagem e planificação criativa e ele até se lembrou de uma coisa engraçada e está a fazê-la todo contente.
De nada, Srª Professora. Aqui estou sempre às ordens.

(Reparem como consegui escrever toda uma publicação estando furiosa e sem dizer um único palavrão.)

Decidimos decorar a caixa com banda desenhada. O tempo que ele leva a ler as tiras é maior que o que leva a cortar e colar.



clarinha

A Clarinha já cá mora connosco vai para quinze dias e está a correr pelo melhor, se bem que isto de ter gatos dá pano para mangas.
Agora estamos concentrados em engordá-la, porque quando a levámos ao veterinário ela pesava apenas 850 gramas e nem lhe puderam dar a vacina. Passa os dias a dormir e ao sol, tal qual como um gato deve fazer. E a pedir comida, mesmo que tenha acabado de comer. Esta gata não deve muito à inteligência.
Aguardo com bastante ansiedade a sua engorda para lhe poder cortar as unhas e dar-lhe banho, antes que em vez de cortinados tenha tiras penduradas do varão.
O mais importante de tudo é que a Mia continua a tomar conta da parte mais belharque dos gatos e quando ela está feita chata com aquilo de dar lambidelas e fazer ronron, a Mia também se chega à frente para a aturar.

Nas fotos, podem ver a Clarinha na sua actividade favorita e também dá para ver bem como ela é da raça mais rafeirosa que deve existir. Na outra foto está a nossa ida ao veterinário vista pela Madalena. É de destacar o fixe do Tiago e a quantidade de gatos que há no telhado do veterinário.)





8 de março de 2015

catorze anos de ti


És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante!

Sophia de Mello Breyner Andresen



6 de março de 2015

runner

Aproveitei a ida a Badajoz para deixar de parecer que vou fazer limpeza cada vez que vou correr.
A Madalena aprovou. Bastante até. Continua a aprovar e eu tenho mesmo que sair para ir dar aulas.


bom dia realidade

Depois de uma noite que devia ter sido sábado, uma pessoa acorda e cai-lhe a ficha que não só é sexta-feira, como tem uma lista de afazeres maior que as dores que tem nas costas.
Começa com uma ida a Badajoz dizer olá ao tutor da tese (enquanto rezo por bondade e compreensão) e acaba já de noite escura após 4 horas de aulas ao mestrado.
Alguém me mate. Agora.


rock n' roll

Quando o Legendary Tiger Man vem a Portalegre ser quinta feira é um pormenor insignificante e a Mia ter teste de Físico Química amanhã apenas um azar de agenda.
Sala a meio gás e malta sem se querer levantar da cadeira para dançar. Ao início éramos só nós os três e mais duas pessoas, no final a malta lá se deixou levar pelo power que se sentia.
Foi a primeira vez que fomos os três a um concerto para gente grande e agora já sei que estamos aptos a ir a coisas destas mais vezes. Fartamo-nos de dançar e voltámos super felizes,  cheios de música da mais alta categoria.
O Tigerman é o maior. Um dos.


(Eu depois digo que nota teve a Mia no teste.)


Tenho fotos do concerto no Instagram. Procurem anacilajose. 

4 de março de 2015

ser mãe do Tiago

Faz-me valorizar imenso morar numa cidade pequena onde tudo está a 5 minutos de distância.
Deixei de contar os esquecimentos de chave de casa desde que o Tiago conseguiu perder o cartão para entrar na escola 3 vezes na mesma semana. As senhoras da secretaria já se riam quando eu lá entrava. O senhor das senhas de almoço deixava-o passar fosse como fosse, porque só o tempo que ele levava a esgravatar tudo à procura da senha, a fila ficava interminável.
Os cadernos não têm capa, os lápis estão roídos, as borrachas inexistentes, material para aquelas disciplinas de fazer coisas é mentira e a mochila parece saída do cú do burro depois de um dia de uso.
Nos testes não passa do Bom, porque não repara que ficam perguntas por responder e às outras dá-lhe a despachar.
- Respostas completas, Tiago!
- Mas é para dizer o que sei ou falar para burros?
Uma vez estudou que se matou, lá na métrica de estudar dele, para um teste de Ciências. Teve bom. Explicação: aquilo tinha duas imagens ao início e eu achei que era só para enfeitar mas afinal era para meter a legenda. E eu até sabia...
Hoje andava aqui a tentar encontrar um documento neste cosmos a que os outros chamam computador e encontrei um texto que escrevi sobre ele quando tinha uns 3 anos. Continua válido.

:::::

- Tu não és normal pois não?
- Não. Eu sou o Tiago!
Foi assim que o meu filho me respondeu depois de mais um devaneio da sua irrequieta alma.
E, como sempre, eu só me consigo rir dos sucessivos disparates que ele faz!
Estar com ele é como ouvir música no volume máximo. Nem sempre apetece, nem sempre se aguenta muito tempo. Muitas vezes sabe muito bem. Demasiado bem.
Viver a vida com aquela entrega à vida e a todos os sentimentos não deve ser fácil, mas viver a vida assim é ter a própria vida na mão.
Sempre em sentimento excessivo do que quer que seja. Bom ou mau. Feliz ou infeliz. Muito ou pouco. Sempre excessivamente. Sempre em carne, sempre aos gritos. Sempre despenteado!!! Sempre pronto a responder com o descaramento todo que tem dentro dele. Responde sempre a verdade.
Não tem nada, porque não tem tempo, nem vontade, nem serenidade.
Tem tudo, porque tem alma, coração, encanto e talento.
Incomoda porque não cede e paga o preço que custa ser assim. De sorriso rasgado e olhos brilhantes. A queixar-se. Sempre! Sem ceder.
O Tiago é aquele pássaro que acabou de se escapar das nossas mãos. É a alternativa a tudo o que somos. A ovelha negra assumida!
A aventura não está na vida dele. Vive dentro dele. Corre-lhe no sangue. A lucidez só tem lugar algumas vezes!
Passam-me à frente da vista todos os outros Tiagos que conheço e termino a lista no meu filho Tiáguinho.
E observo um padrão. Imperfeição. De tanta humanidade que carregam consigo.
Nenhum é normal, todos são loucos. Todos recebem dos outros admiração, complacência ou disfarçada indiferença.
Estou certa que todos já inundaram a casa, pegaram fogo à cozinha nos 2 minutos de ausência da mãe, despejaram o leite do biberão à força de o abanarem só para o verem a cair no chão vindo do céu. Já todos gritaram à mãe "Não apagues a minha estrada!" quando a mãe limpava os riscos vermelhos feitos na parede. E todos quiseram (e continuam a querer) uma nave espacial em vez de uma mota.
Estou certa que todos correm para os braços de quem amam e lhes esmagam o peito e lhes tiram a respiração com a força do impacto. Todos amam da mesma forma que vivem. Em excesso.
Estou certa que continuam a fazê-lo. Independentemente da idade, da profissão, da família e dos amigos que tenham.
Só porque se chamam Tiago. 




2 de março de 2015

dos professores

Não sei já quem foi mas hoje, o dia em que vi um aluno que não via há mais de 10 anos, troquei mensagens no chat com outra aluna que não vejo há um par de anos e combinei beber um copo com outra que vem a Portalegre em breve, alguém partilhou este texto no Facebook.
O Valter Hugo Mãe é um dos meus escritores do coração e é assim que eu recordo alguns professores, alguma escola e foi a tentar imitá-los que aprendi a ser professora e espero que alguns dos meus alunos assim me recordem. O grande estímulo desta vida de dar aulas, além de ser a minha sede de conhecer pessoas, é saber que às vezes há pelo menos um que teve o meu dedo, a minha palavra, a minha inspiração para ser melhor do que era antes. Por querer ser maior e ir mais além. E, na minha visão da vida, a seguir a poder educar um filho para se tornar um adulto bom para o mundo, nada se assemelha a ser a professora de alguém que quer aprender. O acto invisível e mágico de ver aprender é como droga para mim e cada vez que me cruzo com um aluno ou um momento desses toda eu me alimento disso.

(Meti a negrito as partes que gostei mais. Mas antes umas fotos minhas, na minha absolutamente deslumbrante escola, a dar um workshop a uns miúdos do secundário com alunos meus ao fundo da foto. A última foto sou eu e um caloiro armados em parvos.)








Os Professores 
Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade.
A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria do mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.
Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe.
Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesses crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.
Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes.
Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se tivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.
Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias.
Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto.
As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.

Autobiografia Imaginária | Valter Hugo Mãe | JL Jornal de Letras, Artes e Ideias | Ano XXII | Nº 1095 | 19 de Setembro de 2012

camila

Na minha vida existe a Camila, com 3 anos feitos em Dezembro. Eu não a conheço pessoalmente, mas faz parte dos meus planos a curto prazo. A Camila é minha afilhada e mora em São Tomé, na Roça de Água Izé e tem alguns problemas para resolver na vida dela de forma a crescer e ser uma mulher do mundo .
Há muito tempo que eu queria fazer mais que enviar dinheiro à UNICEF sem saber muito bem para o que servia. Queria conhecer, ver as caras, saber os nomes e ter o número de telefone das pessoas que tratam estas crianças. Aqui há uns meses, descobri acidentalmente a Helpo e soube logo que era mesmo o que procurava. Contactei e no dia em que defendi a primeira parte da minha tese, que foi também o dia em que a minha mãe se foi embora de Portalegre, a Camila veio ter comigo, num envelope, para me dizer olá. Os olhos dela são.....penetrantes e podem ver onde ela mora aqui em casa, mesmo de frente para mim quando me sento na secretária a trabalhar e ao lado dos meus filhos.




E a Helpo também veio para ficar, com tudo o que eu sempre quis encontrar: pessoas com nome, um sítio onde eu posso ir ver e saber mais, que vêm a Portalegre e gostam de nos conhecer e falar sobre os seus projectos.
O meu único lamento nesta relação é o de eu não conseguir dar mais, fazer mais e avançar mais efectivamente com o apoio que posso dar. É algo temporário, eu sei. Mas ainda assim, sinto-me em falta. Por exemplo, este mês posso enviar uma pequena encomenda à Camila e ainda não fui tratar desse assunto...
Ainda assim, este mês escrevi para a revista deles, por causa de um outro projecto de que faço parte e senti-me mesmo feliz pelo convite e por me ler na revista da Camila. Ainda não tenho como vos partilhar o link para esse texto, mas como o IRS começa este mês a ser preenchido, achei que vos devia dizer isto:




1 de março de 2015

trail

Vou ser rápida, até porque me parece que os dedos da mão também me doem.
A Diana convenceu-me a ir correr para a serra com os Trinca Espinhas, um grupo de pessoas que trata a serra por tu. Eu fiz 6 dos 15 km que o grupo fez, sempre com eles a puxarem e tratarem de mim, já que nem água levei.
Um dia ainda me vou rir disto tudo.
Obrigada Trinca Espinhas por serem um espectáculo, super bem dispostos e animados. E pacientes.
Vou voltar.  Levando água, equipamento decente, barrinhas e o tal do gel. E treinos durante a semana, ainda que 6 km na cidade sejam um passeio para meninas, comparados com os 6 km de trail de hoje.
Tirando isso, a Serra de São Mamede é só magnífica.

(A foto com a Diana está a preto e branco só para disfarçar o vermelho tomate.
As outras fotos foram tiradas pela Diana, porque ela já domina a técnica de correr/andar/galgar/respirar/fotografar.)