28 de fevereiro de 2015

clarinha

Sabem quando sabem?
Sabem quando olham e sabem?
Sabem quando é amor?
Pronto. Digam olá à  Clarinha.
Depois logo conto mais coisas que agora estou a absorver.
Amanhã quando me cair a ficha vai ser bonito.




um mês

Algures entre a meia-noite e a meia-noite, no dia que não existe (29 Fevereiro) este blogue faz um mês.
Desde então recebeu mais de 6000 visitas o que me tem feito sentir meio aparvalhada, mas também muito agradecida.
A malta aqui de casa promete continuar a contar algumas histórias da vida.
Material não vai faltar.

(Debaixo disto está parte da minha copa. Neste momento, são os reinos de Mianena e Tigoria, acabados de assinar um acordo de paz. Acho que vou fazer o almoço e ignorar o assunto.)







27 de fevereiro de 2015

da vida doméstica

Se há pessoa que não nasceu para a vida doméstica, essa pessoa sou eu.
Vim sem as asas de fada do lar e não há maneira de as fazer crescer. A minha casa está arrumada, mas não é um museu. Está limpa, mas não passa no teste do algodão.
Eu faço mas a mandar vir, a protestar. A sofrer, no fundo.
Das áreas domésticas, aquela em que sou mesmo uma vergonha, é a cozinha.
Perguntem-me o que tenho na despensa neste momento. Não sei.
Perguntem-me o que vou fazer para o jantar hoje. Não sei.
Basicamente, eu só faço aquilo a que se chama refeições, quando estão cá os miúdos. Quando estou sozinha, como o que encontrar pelo caminho quando me lembrar que tenho fome.
Ora, às vezes pesa-me a consciência por tanta comida processada ou comprada feita. Por não haver a sopinha da mamã e essas coisas que todos guardamos na memória dos afectos da infância. Para além deste motivo mais romântico, não sei se têm noção do que come um puto de 11 anos e uma miúda de 13, mas é de fugir.
Aqui há uns tempos, comprei uma panela de pressão e tenho andado em explicações com a minha amiga Maria José, que me vai ensinando a fazer coisas. Não tem corrido mal. De tal forma, que fiquei a pensar que, se calhar, podia dar um salto de fé. E de pensar a comprar todas as quinzenas um cabaz com produtos hortícolas foi um passo rápido, irreflectido e inconsequente. Eles, que se chamam Terra do Vale, chamam-lhe cabaz, mas podiam dizer-nos a verdade: vêm despejar na nossa cozinha um tractor de coisas que o comum mortal não sabe o que são.
Da primeira vez, até medo senti e comecei a ventilar. Mas depois de identificadas as hortaliças com o apoio de terceiros, resolvi o problema colocando no google o seu nome + receita. Não correu mal. Tive amplas críticas positivas dos meus clientes.
Agora já estou treinada. Vem o cabaz, fotografo as espécies, envio à minha mãe para que lhes dê um nome e o resto o google sabe.
Coisas boas deste cabaz? Tantas. Mais saudável, sabe melhor, dura mais tempo sem se estragar, é mais barato, traz azeitonas e pão alentejano...Mas o que eu gosto mesmo é de trazer cenouras como nunca as vemos. Olhem só. Foi uma festa quando vimos as cenouras!

(Entretanto, descobrimos que temos que arranjar os agriões, os espinafres e acelgas. Já temos linha de produção montada e estamos a descobrir bons momentos passados a quatro na cozinha.)





24 de fevereiro de 2015

das mães

É  claro que se me oferecerem uma viagem eu fico histérica de alegria. Mas o que eu gosto mesmo são das pequenas coisas, os nadas que vêm da atenção de quem nos conhece.
Hoje recebi dois nadas que me foram tudo.
Um chegou no correio e veio das mãos da minha mãe. Um caderninho. O meu objecto inseparável. Caderninhos A5 para escrever a vida.
Liguei a agradecer, ainda em fase infantil de enternecimento e diz a minha mãe "assim que o vi disse logo que este era da minha Ana".
Porque é que as mães dizem sempre o nome dos filhos antecedido do pronome possessivo?
Deve ser porque somos sempre das nossas mães. ❤


lazy boy

Tiago, vai estudar.
Já vou.
Tens algum teste esta semana?
Inglês, na sexta.
Estás a ver? Vai ESTUDAR!
É inglês, mãe.  Não é preciso estudar.
Pois, por isso é que ainda não passaste do bom.
Então, bom é bom. Aliás, como a própria nota diz.
:/

23 de fevereiro de 2015

das opções difíceis da vida

Estou tão estoirada que hoje nem consigo estar no meu bunker trancada a trabalhar. Hoje tem que ser no sofá, porque a idade traz "fezes". Já que tive direito a vir trabalhar para o sofá, decido ligar a televisão e sempre vejo os vestidos dos óscares, já que filme não vi nenhum.
Primeiro desafio: encontrar o comando.
Depois de vasculhar tudo, espreito debaixo do sofá e encontro umas collants da Madalena, vários plásticos daqueles que envolvem os manhãzitos do Aldi, bocados de bolachas, canetas, um cocas da Madalena e uma peúga do Tiago (curiosamente as peúgas do Tiago andam sempre sozinhas). E o comando.
Ainda não passou uma semana desde que fiz o telefonema doloroso à minha empregada a dizer para não vir mais e já só penso nela. Mas teve que ser. Contas feitas à vida algo tinha que ir embora e eu que sempre disse que prescindia de tudo menos da empregada, prescindi da empregada.
Filhos + Adolescência + Doutoramento não são uma boa conta de somar. E depois, o que se passa com as contas? Será que me andam a mandar as contas do prédio todo?
Acredito, mesmo muito e já entrei em argumentações fortes por causa disso, que tudo na vida se resume a prioridades. Aborrecem-me aquelas pessoas que se estão sempre a queixar que não vão a lado nenhum e não têm dinheiro para nada e me chateiam por ter ido a Paris, mas depois é vê-los a ser campeões do consumismo desenfreado. São opções. Simples.
Ora eu, basicamente, tenho uma pelintra dentro de mim. Em primeiro lugar, vadiar. Garantidas as questões básicas, nada pode ser superior a vadiar. Nada. Nem mesmo a empregada.
Por isso, agora cá em casa em vez de 1 empregada, temos 4. A Mia é a empregada da loiça e cozinha, o Tiago é o empregado do aspirador e do lixo, a Madalena é a empregada do pó e de se manter concentrada em não criar caos e a mãe é a empregada do resto.
Eles não acharam grande piada à ideia. Mas estou em crer que quando se virem 10 dias a vadiar por Inglaterra, mudam de ideias.

22 de fevereiro de 2015

bom dia...



...a todas as pessoas que dormiram/foram para os copos/viram um filme/adormeceram no sofá.
Por favor, não façam perguntas.




21 de fevereiro de 2015

parte 1 de 3

Como já aqui disse, o Tiago está em processo de baptismo. Tenho tentado manter-me o mais distante que a minha missão de o acompanhar nesta decisão me permite. Aqui há uns dias o pai foi a uma reunião com o padre e explicou-me algumas coisas. Eu não percebi bem quase nenhuma. É um tema tão longínquo e ando com tanta falta de tempo para pensar em outros assuntos que não doutoramento, que fui dizendo que sim. Retive que hoje se passava algo na missa. Ontem descobri que o Tiago ia fazer uma leitura, porque a missa era afinal a primeira de 3 partes que termina no baptismo e hoje era sobre a conversão pela água (espero estar a dizer bem). Decidi ir. E mais, decidi ir arranjadinha, porque a malta vai sempre arranjada para a missa. Em boa hora o fiz.
Afinal aquilo era todo um evento que me meteu a ir lá à frente fazer-lhe uma cruz na testa e dizer coisas à medida que o padre ia perguntando. Nervos. Nervos. Mas até nem fiz má figura.







Não sei há quantos anos não assistia a uma missa. Muitos. Bem mais de 20. Eu decidi sair dos escuteiros e zangar-me com a igreja com 14 anos, por isso já nem dos procedimentos em si me lembrava. Olhei para tudo com extrema curiosidade, bastante inocência e surpresa até.
E tenho que confessar que continuo a não me convencer com nada do que ali se passa. Todo o discurso do padre a respeito da Quaresma, toda a premissa de partida ser sobre o erro, a culpa e a aceitação incontestável do que Deus entendeu querer....não consigo entender, nunca consegui. Não consigo entender, nem sentir. Vou percebendo a fé, estou a descobri-la num processo muito lento, muito reflectido, mas não dá para mim ouvir, em determinada parte da missa, o padre a relembrar os que Deus quis ao pé de si, que esperam pela ressurreição eterna....nem sei explicar o que me dói ouvir isto. Quem sabe, é o meu filho que me vai fazer entender? Ou, aparentemente, fazer aceitar. Sem perguntas.


corridinha da Mia

Ontem fui correr. Estava cheia de vontade de ir, mas sozinha.... Ainda não gosto muito. A pessoa mais próxima que estava disponível era a Mia, afundada no sofá, manta em cima do quentinho e smartphone nas unhas. Não foi fácil e teve que ser negociado. Hoje arrumo eu a cozinha que me lixo. Lá se levantou.
Só tínhamos uma hora para ir, voltar e tomar banho antes do pai chegar.
Quando saímos ia a pensar que talvez não tivesse sido nada boa ideia, que se ia cansar e querer voltar para trás, que exagerei ao querer correr com ela...
Desde " vamos fazer um sprint até ao fim da rua?",  correr no lugar à  espera que eu chegasse onde ela estava e terminar com a sugestão de fazermos "um step"  na escadaria que antecede o nosso prédio, aconteceu-me tudo.  Ainda bem que foram só 4 km, caso contrário, ela era bem capaz de me matar.
Quem diria que a Mia, que nunca se mexe para coisa nenhuma e faz tudo a 0,5 à hora, corre desta maneira?
Já tenho parceira! E treinadora.

(não se deixem enganar pelo ar doce)

20 de fevereiro de 2015

mãe, tu cansas-me

Madalena liga para conversar sobre estar a fazer compras e  blá blá blá blá blá. Eu mal tenho tempo de responder, mas quando calha a minha vez de falar começo a dizer "e quem é a mais tonha?" "e quem é que é a minha gordinha?" e coisas deste género e ela a responder "eu" "eu", até que às tantas ouço-a falar para o pai "já me está a chatear" e desliga o telemóvel. Assim sem mais nada.  Nem remorsos deve ter aquele diabo em forma de menina. 

18 de fevereiro de 2015

Ui, que nervos!

Alguém anda a pedir cenas más para mim.
Não há porra nenhuma que não avarie. A lista de assuntos a tratar cresce a olhos vistos e eu nas mãos deste amontoado de realidade a que não consigo dar resposta.
Ando a dizer coisas sem nexo, palavras fora do contexto e o outro dia dei por mim a falar em voz alta o que estava a pensar.
De há uns tempos a esta parte, entrou para a lista de coisas que estão a dar as últimas, e a fazer com que eu ande nas últimas, o meu computador.
Mas porque raio os computadores começam a trabalhar a dois à hora? Assim do nada? A pararem-se a pensar no princípio da frase quando eu já vou no parágrafo a seguir?
Se isto morre eu vou à bruxa!
Estou muito stressada. Pronto. Levantou-se todo o meu mau humor e já ando a conduzir à taxista e isto nunca quer dizer nada de bom. 
:::
E depois....os miúdos em casa nas férias de Carnaval que eu não tenho. GRRRRRRRR!!
O Tiago a chegar com 2 horas de atraso, mesmo em cheio na hora em que eu ia correr e por isso não fui, de um acampamento de 4 dias com TUDO para lavar e a ir para OUTRO acampamento no próximo fim-de-semana. A Madalena vandalizou a casa TO-DA e a Mia vandalizou a minha cabeça. 
As férias deviam ser proibidas. DEVIA HAVER ESCOLA TODOS OS DIAS DO ANO.
Estou farta de fazer almoços e jantares e lanches.
Pronto. Disse. Vou continuar a trabalhar.










17 de fevereiro de 2015

terça-feira de carnaval

Então Ana, que fazes na terça-feira de Carnaval?
Nada de mais, dou exame de três horas a uma aluna.  :/

(e tiro fotos às senhoras da limpeza que vieram mascaradas)


13 de fevereiro de 2015

De manhã houve pintura de cabelo a spray e uma capuchinho vermelho que desfilou pela rua. Antes ainda fomos ver uma Joaninha bebé ao infantário. De tarde houve tirar piolhos, que já é uma actividade semanal. Penso que a Madalena está referenciada nos sites de turismo dos piolhos como um spot imperdível. Depois, e ao mesmo tempo, fui cruzando vestir uma espanhola, uma tia da linha e um palhaço com arranjar a mochila do acampamento de escuteiros que parte amanhã às 6 da matina. Quando os miúdos saíram para o jantar, houve fazer a comida para o acampamento e limpar a vara dos escuteiros com a faca de mato acompanhada pelas dores no corpo dos 10 km de ontem. Ainda fiz o postalinho do dia dos namorados que lhes ofereço todos os anos. Mal me tinha sentado no sofá, eles voltaram. Pensava que vinham para dormir. Não. A Madalena vinha com a pilha no máximo e vestiu todas as roupas que existem na caixa do carnaval, acumuladas nos últimos 14 anos. Agora dorme. Vestida de super-homem. Com as cuecas por cima e tudo! Ainda tem o eyeliner da espanhola. Isto esgota uma pessoa.


10x3

Três filhos.
Três escolas diferentes.
Três eventos carnavalescos.
Mesma hora.
Não é uma boa receita.


10,8 km de sofrimento atroz

Agora corro num grupo de gajas.
Quer dizer, hoje foi a primeira vez e eu desempenhei funções de carro vassoura.
Na verdade, eu não corri. Eu sobrevivi. Mal.
Ainda estou a sobreviver e já passaram três horas desde que cheguei a casa.
Há muito tempo que andava a pensar nisto, mas havia sempre uma desculpa. Esta semana a Diana convidou e à Diana é difícil dizer não. Mal sabia eu que era tudo uma estratégia para dar cabo de mim.
Recebi o sms com a hora e local e lá estava. Vestida como que para fazer limpeza, mas de ténis e gorro porque a Diana me avisou do frio. Luvas zero. Ela apareceu com duas coisas daquelas de deitar luz da testa e vestida de forma completamente profissional e foi nesse momento que comecei a temer o pior.
O resto do grupo juntou-se é lá fomos. Ao fim de uns km, os ténis pareciam ser dois números abaixo do meu e tinha a sensação de estar a correr inclinada para a frente, claramente uma posição de quem está a sofrer muito. Ainda nem a meio íamos (mas na altura eu não sabia).
No fim já nem sei bem como corria, ia indo. Pedindo aos santinhos para não morrer. A minha colega que disputou comigo o lugar de carro vassoura só dizia "mas isto não tem fim?". Eu não dizia nada, ia concentrada em sobreviver.
Quando acabou, vim o mais rápido que pude para casa,  não tinha levado telemóvel e estava preocupada com as crias mais velhas que estavam sozinhas e que provavelmente já tinham ido ver de mim à morgue ou ligado em desespero ao pai pelo desaparecimento prolongado da mãe. Não. Estavam no sofá a ver um filme e a jantar. Nem se mexeram. Não foram solidários com o meu desespero. Deram os recados que tinham chegado pelo telemóvel e gozaram comigo. Depois continuaram a olhar para a televisão.... Amanhã a ver se me lembro de fazer ervilhas para o jantar.




A foto de cima é à chegada. Uma pessoa ri-se para não chorar. 
A foto de baixo é a prova.  Notem que isto tudo só serviu para perder 580 calorias. Não abate nem metade da Nutella com pão que comi de manhã. Triste. 


11 de fevereiro de 2015

hoje fiz um amigo :: aujourd'hui j'ai fait un ami :: today I made a friend

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Pela primeira vez decidi utilizar o Couchsurfing para ficar em Paris.
Ao consultar o site, encontrei a Charloote e intuitivamente decidi enviar-lhe uma mensagem.
Não podia ter tido melhor sorte e um inicio fantástico nesta maneira de viajar.
A Charlotte, a sua família e o gato Dali, são fantásticos.
Um pessoa muito tranquila, mas animada, que sabe dar espaço aos seus hóspedes, preocupando-se com eles. Adorei conversar sobre Paris, Portugal e a vida.
Numa das noites jantámos em família, partilhando histórias e rindo da alegria que é fazer e estar com amigos apenas a saborear o momento. Foi uma noite descontraída e muito boa, que deixou advinhar o inicio de outras partilhas que hão de vir.

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Pour la première fois, j'ai décidé d'utiliser le couchsurfing pour être à Paris.
En consultant le site, je trouvais la Charllote et intuitivement décidé de lui envoyer une message.
J'ai été très chanceux et un départ fantastique pour cette façon de voyager
Charlotte et sa famille, et le chat Dali, sont fantastiques.
Charlotte est très calme mais animée. Une personne qui sait donner l'espace à ses invités et se inquiéte à leur sujet.
J'ai adoré parlé sur Paris, le Portugal et la vie.
Un soir, j'ai dîné avec la famille, partager des histoires et de rire à la joie qui est d'être avec des amis et simplement savourer le moment. Ce était une nuit détendue et très bonne, qui je espère que ce était la première de nombreuses fois. *

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For the first time I decided to use the couchsurfing to stay in Paris.
When consulting the website, I found Charlotte and decided to send her a message.
I was so lucky and had a fantastic start in this way of travelling!
Charlotte, her family and cat Dali, are fantastic. Charlotte is a very quiet but lively person who knows how to give space and attention to her guests. We talked about Paris, Portugal and life, sharing experiences.
One evening I had dinner with all family and we shared stories and laugh at the joy that is to be with friends and just savor the moment. It was a relaxed and a very good night and, I hope, the beginning of other moments that are to come.





*este francês é patrocionado pelo tradutor do google, pelo que solicito a vossa paciência.

10 de fevereiro de 2015

a ana foi a paris

Descansar do barulho do dia-a-dia.
Deixei as crias um bocado contrariadas com a ideia e fui. Ao início choviam sms com declarações de amor eterno e nos primeiros telefonemas o tom era fúnebre. Depois passou. Começou a ser mais alegre, a contarmos o dia uns dos outros e a mandar mensagens sempre que havia wi-fi.
Acho que percebemos que o espaço de cada um faz falta e é bom para todos.
Foi das melhores viagens da minha vida e percebi como preciso mesmo de parar de tempo a tempos, preciso mesmo do silêncio em que vivi durante 4 dias e como levei bastante tempo a conseguir descomprimir de tudo o que deixei por cá. Dias puros.
Descobri também como é a vida das pessoas sem filhos. Há mesmo tempo para tudo e mais alguma coisa! Vi os museus sem ter que arrancar a Madalena das esculturas, apreciei o que quis apreciar durante o tempo que me apeteceu sem ter que berrar pelo fim das embirrações constantes e audíveis da Mia e do Tiago. Respirei.
Ao quarto dia acordei meio sem vontade, mas ainda tinha planos que me faltavam cumprir e lá fui. No metro aconteceu a ruína do dia: a Madalena telefona-me antes de ir para a escola "só para dar um beijinho". Desde esse momento reparei mais em todas as crianças com que me cruzava na rua do que na rua em si. Decidi sentar-me no Jardim do Luxemburgo a pensar neles um bocadinho para poder depois voltar a viver o momento novamente. Resultou.
Não é fácil este equilíbrio entre a Ana e a mãe destas três criaturas. Até porque estou sempre tão atraída pelo que me falta viver quanto estou dedicada a fazer parte da vida destas três pessoas.
Acho que todas as mães vivem esse drama, a culpa que parece instalar-se por continuar a ser também mulher, por continuar a ser uma pessoa que está a fazer o seu caminho. Percebi que não posso, nem vou, desistir de mim. Acredito que o que sou e como sou é também educar.
Hoje passei parte da tarde com o Tiago que, curiosamente, me contou que no teste de Português tinham que falar sobre a pessoa que era o seu herói e, disse ele: "Mãe, assim que vi a pergunta soube logo que era de ti que queria falar." Foi bom. A resposta vai chegando e sinto que estou a contribuir para que eles cresçam com memórias de afectos, de presença e que se tornem pessoas melhores. É esse o meu objectivo maior. E por acreditar nisso, às vezes forço-me a ir e quando vou descubro sempre a minha essência. 'Curiouser and curiouser!'*.





*Alice's Adventures in Wonderland, Lewis Caroll

Nota final: Tenho algumas fotos que tirei no Instagram, onde me chamo anacilajose. Querendo, passem por lá.


5 de fevereiro de 2015

amote sem tracinho

Não há ninguém mais doce que a minha filha Mia. Claro que esta doçura toda tem um lado mais torcido e muitas vezes difícil. Principalmente quando falamos de alguém à beira de fazer 14 anos. (Agora ao escrever 14 anos, pareceu-me estar a dizer que ela ia sair de casa e fazer-se à vida e que se tinha acabado este bocadinho pequeno em que as mães têm o direito inteiro da vida dos filhos. Senti medo.)
A Mia, ao contrário dos irmãos, não tem muitas histórias particularmente diabólicas ou engraçadas. Mas tem muitas sarcásticas e refinadas. É o grilo falante cá de casa, sempre atenta e comentadora do que se passa. É também a filha mais doce, mais cheia de amorzinho para ir deixando aqui e ali. Mais cuidadosa nos afectos, de beijinhos e de carinhos. Não falo muito nela aqui porque aos 14 anos a sensibilidade e atenção a infindáveis potenciais intenções nas palavras que se dizem e se escrevem estão no auge. E eu tenho muito respeito (medo) disso.
É a Mia que se despede de mim (sempre) com um amote sem tracinho para nada nos separar.
E agora estava aqui a pensar que não são estas maratonas de trabalho que me matam. Não são. O que me mata, o preço disto, é o tempo que eu passo ausente destes amores sem tracinho.

(Estas fotos foram tiradas em 2009, tinha a Mia 8 anos. Mas eu sempre as adorei. São ela.)




4 de fevereiro de 2015

das coisas bonitas que me fazem

Às vezes peço coisas a algumas pessoas através de mensagens no facebook escritas à pressa e sem me explicar muito bem. Hoje, vieram cá a casa trazer o que pedi e fiquei a pensar em como há pessoas mesmo bonitas.  De tal forma bonitas que tudo o que sai delas vem assim simples, único e precioso.

Conheçam aqui a Lu Zazou.


sobreviventes

Hoje é o Dia Mundial contra o Cancro.
Aqui há uns tempos, não me lembro porquê, preenchi um formulário sobre o assunto e a dada altura perguntava se era sobrevivente. Respondi que não. Pensei que sim. Hoje em dia somos quase todos sobreviventes, somos quase todos pessoas que sobreviveram à dor e à perda de alguém que amavam e que viram partir de uma forma demasiado cruel, demasiado desumana. Lembro-me de pegar a minha avó ao colo, como se pegam os bebés, quando lhe dava banho. Lembro-me do Luíz, há um ano atrás, sentado no restaurante a comer um naco de vitela que a Susana inspeccionou minuciosamente e lembro-me de olhar para ele e de pensar que era quase mentira ele estar doente. Foi o último dia que o vi. Lembro-me da Maria, cheia de um sorriso gigante e da voz dela ser sempre de ternura. Por mensagem combinamos ver-nos quando estivesse melhor. Não chegámos a ver-nos. Lembro-me do pai do Paulo, que caiu e ele pensou que era osteoporose, zangado do pai não fazer exercício... Lembro-me do olhar da Susana, da força com que me abraçava das vezes que fui ao hospital. Lembro-me do Paulo, calado, a sofrer para dentro a falar das coisas que tinha para resolver da casa e do carro do pai para não falar do pai e da dor. Lembro-me do Max, cheio de esperança e de normalidade uma semana antes da Maria ir embora, e depois lembro-me do Max a andar de um lado para o outro na igreja perdido.
Perdidos. Sozinhos. Esta dor é deles. São sobreviventes.



3 de fevereiro de 2015

dorme caramba

Já passa da meia-noite e estou a tentar trabalhar no doutoramento, preciso de terminar a metodologia esta semana (leia-se depois de amanhã) e o raio da gaiata não dorme. Chiça.
Esta miúda veio ao mundo para dar cabo de mim e estou convicta que se fosse a primeira eu não tinha coragem para ter mais nenhum. Depois de dois filhos que comiam bem, dormiam melhor e faziam o que se lhes dizia, eu era a mãe imparável, cheia de dicas e ensinamentos para distribuir. Até que chegou esta coisa. Tudo o que eu achava que sabia foi pelo cano, toda a minha pedagogia, dicas, ensinamentos....nada tem valor.
Só dorme comigo, a cama dela só enfeita. Está (desde que nasceu) permanentemente e tentar meter a mão dela dentro da minha boca. Só faz o que lhe apetece, não quer saber das consequências.
Uma vez, tinha ela pouco mais de dois anos, achei que a ia dobrar e proibi-a de se levantar da cama quando acordava. Não se levantou. Mas cantou (berrou) durante hora e meia todas as canções infantis que conhecia a acompanhar com palmas. Juro que é verdade e juro que ia dando em maluca. Foi nesse dia que decidi aplicar a máxima "se não a podes vencer, junta-te a ela" e deixei de me ralar. Até dei os livros que tinha na estante de pedagogia.
Aprendeu a andar com 10 imaturos meses. Veste-se sozinha desde o ano e pouco, o seu sentido estético deixa muito a desejar mas depois de vestida não leva a bem sugestões contrárias, sabe ler e contar desde os três anos e a autonomia que tem é uma coisa palerma. E depois não dorme sozinha....
Agora vim trabalhar para a minha cama, para ver se ela dorme. Enquanto escrevo, está com a cabeça no meu braço direito e a mão a tentar chegar à minha boca, por isso estou com a cabeça na direcção do tecto e a olhar para baixo para ver o que escrevo, enquanto lhe sacudo a mão. Eu não mereço isto.




2 de fevereiro de 2015

treino de gatos

A Madalena tem estado adoentada e vai ficando por casa. A minha mãe está cá e trouxe os seus meninos-palermas-equivalentes-a-crianças-super-mimadas: os dois gatos. São um bocado parvos. Ou dito de outra forma, têm pouco treino.
Digamos, que após a recriação do Rei Leão que vai nesta sala, eles vão transformar-se em gatos das forças especiais.

(Enquanto a foto fazia upload, o treino mudou para "aprender a saltar o sofá" ao som do Frozen.)


1 de fevereiro de 2015

escuteirar

Este ano decidiu-se que o Tiago ia para os escuteiros, deixando os tempos de jogador de futebol no passado. Não foi uma transição fácil, mas ele percebeu as razões fundamentais e lá foi experimentar.
A primeira decisão que ele sabia que era preciso tomar tinha a ver com o baptismo. Não sendo eu católica, eduquei os meus filhos na base da opção livre e consciente. Aceito as suas escolhas, mas peço sempre a razão que os levou a decidir. Ao fim de um mês lá decidiu. Queria ser escuteiro. Aceitava, e mais que isso, abraçava a causa com tudo o que ela trazia. Catequese com ele, bíblia numa mão e manual do apelo na outra.
Isto tem sido um processo complicado para mim. Primeiro perceber a dinâmica daquilo, depois fixar nomes, termos, normas, cultura. Tem sido muita pergunta palerma a chefes e outros pais. Felizmente o pessoal já sabe o que a casa gasta.
Mas mais que isso tudo, este caminho do Tiago tem-me trazido de volta, para eu ir pensando, o meu assunto não resolvido com a fé. Mas adiante.
Amanhã é a promessa de explorador, o padrinho é o Francisco seu melhor amigo desde que há memória . A camisa e o lenço eram meus. São agora dele. Mudámos emblemas e emocionámo-nos muito quando chegaram da costureira. Acho que sabemos que estamos a viver coisas importantes.
Hoje foi a velada de armas, no meio da Serra de São Mamede, zero graus, noite clara sem chuva. Zero graus. Meio da Serra. Estava lá o Padre Américo e os chefes dele. Falou-se essencialmente de amor. De como o amor nos aquece, nos cresce, nos acompanha. Falou-se da amizade, do companheirismo e respeito pelo outro, seja quem for o outro. Falou-se da natureza, do mundo, do que há a fazer por ele. No fim rezaram, cantaram a canção da despedida muito baixinho. Abraçamo-nos e viemos embora. Gelados dos pés à cabeça. Quentes dentro de nós, porque como disse o Padre Américo, está muito frio aqui na Serra mas o amor que sentimos uns pelos outros faz-nos sentir quentes.