20 de junho de 2015

até sempre escolinha dos pequenos

Chegámos atrasados à missa. Para trás ficou a casa toda desarrumada nas pressas de ir embora. Na igreja ainda levámos o nosso tempo a acomodar-nos e a silenciar-nos. Cada um dos que eram nossos iam chegando mais atrasados que os outros e recomeçava o desassossego do beijinho e do senta-te aqui. Depois tudo tranquilizou... chorei. Já sabia que ia ser assim. Quando nasceu só tinha uma penugem na cabeça e aquele ar de boneca que se torcia na nossa direcção como que a querer falar tocar-nos engolir-nos de nos querer. Os caracóis só vieram depois. Aos montes. Mas hoje quis levar o cabelo esticado. A Mia deu o seu melhor a tentar fazer desaparecer os caracóis. A alegria e o entusiasmo por tudo cresceram com ela. É a minha filha mais assumidamente feliz e entregue à vida. Hoje despediu-se do Infantário e eu também. A Madalena fecha a porta de 14 anos em São Bartolomeu. Como é que eu não havia de chorar?


12 de junho de 2015

miró nos olhos da madalena

Esperei por pendurar este quadro na parede bem mais que 3 meses. Hoje cansei-me de esperar e roubei-o à descarada da parede da sala da Madalena onde estava afixado a pioneses.
Um Miró feito com pincéis do infantário depois de um dia em que a educadora lhes falou que é possível pintar sonhos e que havia um adulto que pintava com o espanto de uma criança. Desde que o vi que decidi que ia ficar ao lado do Picasso de verdade trazido do MoMA a meu pedido pelo meu irmão.
Foi aliás o Picasso que disse que a arte lava da alma a poeira da vida quotidiana. Eu acho que é verdade.






8 de junho de 2015

cila

Nunca fui muito fã da expressão melhor amiga e sempre tive dificuldade em atribuí-la a alguém com exclusividade. Parece-me que as amigas, e amigos, que tenho são tão diferentes que se complementam. Depois os tempos vão mudando, a geografia da minha vida levou-me a ter pessoas espalhadas em todo o lado e o quotidiano fixo numa cidade onde realmente não posso dizer que tenho esse alguém especial. Não me parece que tenha uma que sirva para tudo, embora tenha muitas que servem para muito.
Pensando no assunto, uma melhor amiga é alguém que está sempre. Mesmo quando está zangada connosco. Mesmo que à distância. Uma melhor amiga ouve e cuida. Tenta resolver, mas também sabe que às vezes não há nada que possa fazer além de estar ali. Uma melhor amiga, permanece. No tempo, na vida, nas decisões. E nas indecisões também! Uma melhor amiga reclama, mas aceita. Zanga-se, mas perdoa. Magoa-se, mas esquece. Celebra nas vitórias, apazigua nas derrotas.
Há aquela ideia adolescente que as melhores amigas são um género de gémeas siamesas que se separadas asfixiam e morrem. Contam tudo, partilham tudo e são inseparáveis. Não me parece. As melhores amigas podem ser muito diferentes na maneira de ser, de viver, de encarar a vida e os outros. E podem até viver com menos palavras entre si porque o entendimento entre quem se conhece não passa assim tanto por palavras. O que as torna melhores amigas é o amor, respeito, companhia, cuidado com que tratam uma da outra. A atenção e o tempo que se dedicam. Como se acompanham. E estão. Havendo um verbo, teria que ser o estar.
A minha mãe não foi a minha melhor amiga enquanto cresci. Nessa altura ela era minha mãe em exclusivo, daquelas mães duras que educam e não facilitam. Ainda bem.
Hoje a minha mãe, depois de tanto e talvez por isso mesmo, é a minha melhor amiga. E, caramba, ainda bem.


6 de junho de 2015

borboletas

A Mia chegou hoje a casa com alguns trabalhos de educação visual e uma maquete para ciências. No outro dia, desenhou o professor numa aula e passa parte do tempo a desenhar num caderninho.
Uma das coisas, das muitas coisas, boas de ser mãe de alguém é poder assistir na primeira fila à transformação da pessoa que antes era um bebé num alguém com sonhos, aspirações e vontades próprias. Que faz o seu caminho com o olhar no horizonte mas os pés bem assentes na terra. Convicta do que quer, é imparável!
E ver esta sensibilidade artística a aparecer juntamente com a capacidade de construção do que idealiza, no caso da Mia, é uma surpresa gigante.
Ainda me lembro da miúda de cara fechada em cima do palco nas festas de infantário em que não abria a boca ou nas apresentações de ballet que se pregava ao chão no meio da sala tipo mono. E agora dança, faz teatro e traz-me maquetes de ciências para casa e asas de anjo em 3D
Há uns meses quando estavamos no sofá a ver uma série qualquer deixou cair a pergunta:
Mãe, achas que faz mal se eu quiser ir para artes?