30 de abril de 2016

encontros e partilhas

Em Outubro próximo comemoro 15 anos como professora no Ensino Superior. Ao longo de tanto tempo necessariamente muito mudou. Não só a própria estrutura do ensino superior, como a organização e metodologias das aulas.
A minha primeira aula, que recordo cada milésimo, foi dada em pânico. Era a primeira e eu era quase da idade deles. Nessa altura eu já não era aluna, mas também ainda não era professora. Esse limbo durou muito tempo. Encontrar o passo do caminho foi complicado para mim.
Embora se possa dizer, se olharmos apenas para o imediato e visível, que tudo mudou, na verdade nada mudou.
Há um dia que permanece.
A Queima das Fitas. O Adeus.
Sei, no dia que conheço cada um dos meus alunos, que em três anos (em média) me vou despedir dele. O olá que é dito tem a data do adeus marcada.
E isso não muda. Talvez apenas já tenha ultrapassado a ideia de que é definitivo, de que a ligação que se criou acaba ali. O tempo ensinou-me que estava errada, porque muitas pessoas ficam na minha vida e deixam-me ficar na nelas.
Alunos que se transformam em amigos.
E por isso o dia de hoje, da despedida, é mais tranquilo, mais bonito e transforma-se em apenas mais uma (muito importante) partilha.
Os encontros vão continuar. Por ai, na vida.
Quem entra na nossa vida, nunca vem em vão.

Até logo, malta.
Que a vida vos permita a oportunidade e que vocês saibam reconhecê-la e mostrar a capacidade.

See you around. 💚

Fizemos este vídeo há uns anos e, por isso estes alunos já são diplomados. Permanecem. Eles e o que sentimos uns pelos outros.









26 de abril de 2016

ela faz cinema*

Hoje fui à tua procura. Fingi que tinha coisas a fazer por ali, na rua por onde andas. Fingi a mim mesma, pois não preciso fingir a ninguém. Fingi que precisava mesmo muito de ali ir. E fui. Devagarinho, para dar mais tempo à oportunidade de nos encontrarmos. Mas a fatalidade do destino foi madrasta comigo. Fiquei a pensar que não era boa hora para ter ido. Fiquei a pensar que amanhã terei que fingir novamente que preciso de ali ir, mas amanhã já sei que vou precisar de fingir que preciso de ali ir mais tarde. À hora do lanche. A essa hora terás concerteza que sair e terás concerteza que passar na mesma rua onde eu estou a fingir que tenho coisas a tratar. E vou-te ver. Sei que sim. Sei que te vou ver e sei também, com a mesma certeza, que tu me vais ver. Vais-me olhar. E, nessa altura, eu vou fingir que não te vi, porque nessa altura eu vou ter a certeza que tu sabes que eu não tenho nada a tratar ali e que estou só a fingir a mim mesma que tenho de ali ir tratar de uma hipotética coisa muito importante. Vai ser assim. E vou, novamente, fingir que não és importante para mim, que nem te reparei, ou que sou arrogante porque te reparei e não te falei. E sei também que nunca saberás que eu só fingi que não te vi porque estava ali a fingir que tinha uma coisa importante a fazer naquela rua, naquela hora e que tu sabias que eu não tinha mais nada que fazer ali senão ver-te, sofrer-te, querer-te e perder-te rua abaixo. 



*Chico Buarque

24 de abril de 2016

sushi não é para meninas

A Mia não se calava com ir experimentar sushi. Está-me a parecer que agora vai ficar calada durante uns tempos.


7 de abril de 2016

kiwi karl

Já há uns meses valentes que não recebíamos couchsurfers, simplesmente porque não sentíamos que nos apetecesse.
Há umas semanas o Karl mandou mensagem a dizer que era da Nova Zelândia e estava na estrada, viajando à boleia, há cerca de um ano. Aceitámos na hora! A empatia é assim. Andei a trocar mensagens com ele sobre a vinda para Portugal até que ontem chegou, já noite adentro. Os miúdos estavam ansiosos de o ver, talvez por vir do outro lado do mundo, onde nós queremos tanto ir!
Hoje passou o dia aqui por casa a descansar das 12 horas de viagem desde Madrid e ao final do dia demorámos a jantar, enquanto ouviamos as histórias sobre as pessoas que já conheceu. É engraçado como as pessoas que se assumem como viajantes, que é bastante diferente de ser turista, falam mais de pessoas e menos de lugares.
Podem seguir a sua aventura aqui.
Entretanto, vai embora hoje para um festival em Fronteira e volta para ficar mais uns dias na próxima semana. Prometeu cozinhar e se se sair bem, acho que o vou adoptar.







1 de abril de 2016

escombros

Encontrar tempo para apenas estar.
Numa semana que começou em ruínas, hoje deitei-me no banco ao sol sem mais nenhuma intenção além do calor.
Renascer após o doutoramento tem se tornado numa tarefa tão dura quanto foi morrer nele. Pensava que depois voltava tudo ao que era, mas nada voltou. Obviamente, um erro meu. Nunca voltamos ao que já não somos. Durante algum tempo tentei mascarar aquilo que sabia. Enchi o meu vazio de escolhas sem sentido e vim cair, trôpega do mundo, nesta semana.
É tempo de me sentir e reinventar. Perceber quem sou agora e quem quero construir para o futuro. Ser além disto tudo que me rodeia e me diz tão pouco. Me faz tão pouco. Nada. Quem resta depois do doutoramento, da escola, dos filhos? Perguntaram-me o outro dia. Estava sentada numa cadeira de plástico a olhar para um homem que acabava de conhecer. E tive que lhe dizer "nada". Tive que dizer em voz alta para o som bater nele e voltar para mim. Vim de lá a pensar nele. Mantenho-me a pensar nele. A realidade tal como a olhava deixou-me, porque não me servia, e desta desordem de sentires que me invadem há-de aparecer a resposta. Há-de haver lugar ao esquecimento e há-de haver lugar a arrumar todos os pensamentos que me inundam. Um dia, lá mais à frente, depois das questões, chegarão as respostas. Hei-de voltar aquela cadeira de plástico para lhe responder que depois de tudo, resto eu.