31 de maio de 2016

em modo suspenso

Foi tempo de pôr em acção o meu plano de desaparecer para dar balanço até ao final do ano lectivo.
Às vezes, estas vontades vadiadoras batem-me à porta e é preciso respeitá-las. Esta bateu-me à porta quando me apercebi que podia beneficiar de uma série de feriados consecutivos e fazer uma espécie de mini-férias traçadas com alguns (poucos) dias de trabalho.
Há várias coisas que começam a ser hábito nas voltas que dou, mas nem todas muito positivas. A mais importante de todas é o meu total falhanço como organizadora da coisa. Em tempos idos eu era a nata da nata do detalhe e planificação de viagens, alojamentos e cenas diversas. Isso acabou. Agora, com os níveis de concentração e capacidade de levar a cabo várias tarefas paralelas a atingirem mínimos históricos, ridículo é um eufemismo para caracterizar o que acontece. Ainda assim, os meus mínimos chegam-me para marcar onde ficar e conseguir pensar o início da rota, ficando tudo o resto naquela maravilhosa categoria chamada "logo se vê".
No primeiro fim-de-semana, aproveitando o feriado municipal, a ideia era ir a Setenil de las Bodegas, na Andaluzia, perseguir uma imagem vista no Trover. Pareceu-me uma boa oportunidade para mostrar aos miúdos Gibraltar e logo se via mais o quê e onde e como e essas coisas. Na véspera de irmos, o Tiago foi para as festas da cidade com os amigos e eu fui ao maravilhoso Pátio da Casa com as miúdas e amigas. Resultado óbvio: chegámos todos a casa tarde que se farta e no dia a seguir levantar, fazer malas e ir originou uma espécie de efeito dominó na minha casa e em tudo o que eu tinha (mal) planeado sobre a ida. Parecia que estávamos a assaltar a nossa própria casa, atirando coisas para sacos e fugindo dali para fora. Quando chegámos a Sevilha caiu-me a ficha de que a) não tinha tomado nota da morada do apartamento; b) não tinha avisado o dono da hora de chegada. Nada que um restaurante com wi-fi não tenha resolvido e lá seguimos. No dia seguinte, fomos a Gibraltar e vou ter que o considerar o ponto alto desta viagem para os miúdos. O encanto com ver-se África mesmo ali, haver um sítio no meio de Espanha onde se fala em inglês, se cobra em libras e tem uma praia pequenina e quase deserta... Foi a loucura! A loucura foi também termos a sorte de ver a fronteira fechar para deixar aterrar dois aviões ali mesmo à nossa frente e, tenho mesmo que meter na lista de "a loucura", encher o depósito com gasóleo a 0,72€/litro. O dia acabou com o pôr-do-sol em Punta Paloma, que de repente são apenas dunas gigantes que tapam a estrada.
O dia seguinte foi o meu ponto alto e exigiu 8 horas enfiados no carro pelo meio da serra. Parámos em Ronda para a voltinha e foto da praxe e seguimos para o destino da mãezinha: Setenil de las Bodegas. A aldeola que nasceu do meio da rocha. Quando demos com aquilo estava morta da capacidade cerebral, mas valeu tudo o que esticámos até lá! É surreal e está aqui bem perto de nós, da malta que mora na fronteira de Portugal. Quando chegámos a casa estávamos dados e a rejeitar a ideia de que no dia a seguir era tudo normal. Trabalho, escola, testes e reuniões...foi um choque passar de uma coisa para outra. Mas durou pouco. Estava já a chegar o próximo carregamento no botão do off! Tudo planeado pela pessoa com quem fui, local e hora de chegar, pela fresquinha. Nada me ia deter. Nada, excepto o jantar e noitada valente que fiz com amigos na véspera. Que me deteve até à tarde do dia seguinte em péssimas condições e me impossibilitou de fazer, como manda a lei, aquela coisa chamada mala, com as coisas que as outras pessoas levam para a praia. Felizmente tive bastante oportunidade para fazer absolutamente nada nos dias seguintes e recuperar de todos os cansaços que me andavam a estragar a actividade cerebral. Para quem só pode tirar férias de jeito no pico da época alta, conseguir estes momentos de curta paragem exige muita ginástica na agenda e não possibilita grandes preparações, mas são a garantia da manutenção do bom humor social, que de si já é curto.

Às vezes é mesmo preciso que exista a paisagem. E que seja uma linha recta até lá ao fundo, sem nada que a perturbe. Sem nada. Foi assim.














23 de maio de 2016

teimosias da mãezinha

Hoje fiz (fizemos) muitos quilómetros e muitas horas dentro do carro pela Andaluzia profunda adentro para chegar aqui, a Setenil de las Bodegas. Encontrei-a há uns tempos no Trover e desde então que teimei em ter uma foto tirada por mim da imagem que vi. Foi hoje.


17 de maio de 2016

segurar a vida

Pode a vida parar? 
Escolher o momento de onde não queremos sair. Pousar. Ficar ali e ser dali para sempre. Ser tempo.
Pode a vida ser só aquela vida, feita do coração desse momento em que quisemos ficar. Não sair do mais puro que somos. Fechar os olhos para voltar a viver onde não pudemos parar. Sentir outra vez o que foi demasiado rápido mas nos fez eternos. Imortais. Querer só que o coração volte a encher do que já transbordou. O meu coração alimenta-se do invisível, do pormenor, do nada ou quase nada pequeno da vida do dia-a-dia. Daquele olhar de soslaio só para reparar no teu perfil, da mão que assenta no meu colo num momento de ócio, dos cabelos espalhados no meu ombro. Da maneira como ris. Da forma dos teus dedos. Quando te cansas e pedes o conforto que sabes ser teu. Às vezes, nesses pequenos momentos invisíveis que são eu, somos nós, quero fotografar-nos com os olhos com que nos vejo para nos guardar assim e agora e a vida parar aqui em nós a fazer nada e a sermos tudo. 
A vida parou. 
O Luís entrou na nossa casa, cheio da paz que anda sempre com ele e parou-nos no que somos. Olhou-nos cheio da bondade que é e viu o tudo que somos. O invisível. O que eu pensava que só nós víamos quando éramos sem mais nada nem ninguém. E agora somos um momento guardado na eternidade onde podemos parar de cada vez que o olharmos. 
Aqui estamos nós como somos, como sentimos e como vivemos.
Obrigada Luís, por nos teres visto. Por seres tão especial. 







10 de maio de 2016

cães, pijamas e lições de inglês

Chegou hoje, após quase um mês de espera, a coleção completa da Patrulha Pata. Todos pelo preço de metade de um, patrocínio do meu estimado eBay.
Actualmente na televisão desta casa só se vêm cães salvadores de diversos e miúdos de pijama salvadores da noite.
Esta tarde, a caminho da ginástica, a Madalena e o Francisco meu sobrinho, tentaram ensinar me a dizer PJ Mask, na versão deles. Algo parecido com pi-ja-macs. Ao fim de já gritarem em coro (e desespero pela minha incompetência) PI-JA-MACSSSSSSS, a Madalena solta um resignado "esquece mãe, tu não sabes falar inglês".
OK, then....


8 de maio de 2016

diabo com caracóis amarelos

Entre as arrumações e o arquivo do espólio recebido no dia da mãe, estava o vencedor na categoria "Deixemo-nos de mariquices e vamos directos ao assunto"  deste ano:




7 de maio de 2016

verão

A pessoa está a fazer dieta. E não está fácil. A pessoa esforça-se muito por se livrar do pecado da gula. Mas a tentação tem sido diabólica. Ontem comprei caramelos de fruta para comer um ou dois quando me desse a ressaca do açúcar. Hoje já quase não há. E agora acabei de vir da cozinha onde despachei, a meias com o Tiago, uma caixa de biscoitos molhados em leite morno. Até estou mal disposta. Não há condições. Juro que só fui à cozinha tomar a minha droga noturna, mas estava lá o Tiago a fazer a ceia e se há coisa que me dá mesmo felicidade são as conversas de balcão de cozinha com ele. Quando estamos os quatro em casa, estes momentos só nossos são raros, quase únicos. As irmãs não lhe dão hipóteses e ele passa o tempo perdido nos vídeos do YouTube, no GTA e nele próprio. Eu sei que morar só com mulheres não é fácil, mas também sei que isto ainda lhe vai trazer muitas vantagens no futuro! Nesta gula partilhada, estamos só nós encostados a comer, a dizer palermices e rir. Ele imita teatralmente, de forma exagerada, quase todas as pessoas que conhece e vai comentando a performance e, quando se ri do que acabou de fazer, faz duas covinhas nos cantos da boca e fica mesmo bonito. O Tiago é o Verão. Ultimamente tem andado como o tempo. Baralhado e repentino. Esquecido da estação que é. Mas quando se lembra de quem é, é sempre o Verão.




6 de maio de 2016

ser

Acompanhar a vida de alguém tem uma parte maravilhosa, a descoberta. Assistir à descoberta, aos momentos de revelação do ser. Há na Mia, quando dança, uma tranquilidade de só ser que é das coisas mais bonitas a que posso assistir.



4 de maio de 2016

magic people


So many good things have happened to me because of the good people that are in my life, that some of them almost seem unbelievable.

Feeling so exausted and in extreme need of silence and nothingness, I kept dreaming about spending some days alone, in a resort. Unfortunately, my budget doesn't allow me to consider that!

Last week a friend of mine invited me to stay in a resort for 5 days and just chill out and watch the grass grow, laying on the sun, with a drink in my hand.

And today, while exchanging emails with the people I am spending the summer with, I understood that they are really worried about me for not staying longer. I'ts just amazing how life can bring us everything we need at the right time, if we are able to trust time.

I feel so blessed. I have such good feelings about all these things, people. It's magical for me. So much love.




3 de maio de 2016

do acaso

É impossível saber o momento em que damos ordem e significado ao que antes não era nada além da possibilidade de ser qualquer coisa. No papel, o vazio origina a forma. Do nada construímos tudo e às vezes não sabemos dizer porque foi, como foi, em que momento a dobra que fizemos na vida, nos levou a criar esta forma que existe agora.




1 de maio de 2016

becas

Há poucas certezas na vida e à medida que a vida avança vão havendo cada vez menos. Uma das certezas da vida é a finitude. Aprende-se que o tempo da imortalidade e da inconsequência acaba. Por isso, sei que tenho que vos guardar dentro de mim, na minha memória fotográfica interna, porque o tempo está a passar e daqui a pouco, já não vos vou levar à escola, nem parar no portão a arranjar os cabelos ainda meio despenteados, nem vão existir os sorrisos com dentes de poucos anos enquanto a mão acena um até logo e um ansioso "a que horas me vens buscar?".