29 de setembro de 2015

dia vinte e nove

Faz hoje um ano que fui a Badajoz defender a tesina. Para os espanhóis é a primeira pit spot do doutoramento. Vamos lá apresentar a parte teórica do nosso estudo e o que propomos implementar na parte prática. Fui sozinha e foi um dia muito difícil para mim.
Tinha acabado a mudança para a casa onde moro agora já passava da uma da manhã e ainda tive que preparar a apresentação antes de poder descansar. De manhã passei a casa da minha mãe a despedir-me dela e já lá estava o camião que ia fazer o seu regresso à cidade grande depois de três anos a tentar morar aqui (sem sucesso) e eu sabia que quando voltasse de Badajoz ela já não estaria em Portalegre.
Fui o caminho todo a treinar a defesa em voz alta e não correu mal. Vim de lá com um 9 em 10 possíveis. E, mais importante, vim de lá com ordem para fazer a parte prática da tese e acabar isto.

Não foi propositado mas só hoje é que me foi possível ir a Badajoz levar a versão final para a entrega formal. Não fui sozinha. Levei a Mia que quis faltar à escola para ir comigo.
Foi muito rápido e muito.....desapegado. Foi como ir meter os papéis de divórcio de um mau casamento. Fiz o que tinha a fazer e vim-me embora. Levar a versão impressa e encadernada com capa mate laminada 300 gramas. Parece um livro sério.
A minha amiga Cristina pediu-me para tirar muitas fotos.
Assim fiz. Já referi que fui com a Mia?































Também tirámos uma com a tese para a Cristina não se aborrecer comigo.







24 de setembro de 2015

azul :: blue

O timing da vida.
O tudo das últimas semanas veio terminar neste nada absoluto que é o azul do Chipre.
É certo que vim trabalhar, mas a meio gás. No Mediterrâneo os dias têm tempo para tudo e fluem como a brisa que se sente. Quente e vagarosa.
Entre as pessoas únicas que aqui tenho conhecido, as conversas sobre o mundo e nós no mundo, as saudades de casa e dos miúdos, os lugares que me arrebatam e o tão necessitado e desejado descanso, acontece este azul.

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The timing of life.
The everything of last week came to end in this nothingness that is the blue of Cyprus.
It is true that I came to work, but not as much as in a normal week.
In the Mediterranean the days have time for everything and flow like the breeze that we feel. Hot and slow.
Among the amazing people I have known here, the conversations about the world and we in the world, homesickness, places snatching me and the rest so needed and desired, happens this blue.




22 de setembro de 2015

primeiro dia do primeiro ano

Foi com a normalidade de quem faz isto há muitos anos que a Madalena foi para a escola. Controlou as operações todas com a serenidade e pulso firme de quem sabe bem o que quer. Chegámos atrasados porque se chegássemos a horas as pessoas iam reparar. No mesmo dia o Tiago também teve um primeiro dia à mesma hora noutra escola. Esta gente não conhece o conceito de irmãos e marca tudo sempre à mesma hora. Foi a Mia em minha representação porque como não mudou de ciclo não teve direito a primeiro dia formal. Foram a sentir-se todos importantes e voltaram a tempo de participar no dia que era da Madalena.
Primeiro dia do primeiro ano dela. Último primeiro dia para mim. Foi feliz e a vida é mesmo assim. Feita de ciclos.
Por enquanto ainda dorme com os pezinhos papudos encostados a mim. Ainda recebo desenhos recados e abraçinhos mimosos das minhas três crias. É seguir em frente a sentir a brisa das pequenas coisas. A viver todos os dias o primeiro dia.






16 de setembro de 2015

Recebi hoje o mail porque tanto esperei. Veio do meu tutor do PhD e dizia:

IMPRIME Y ENCUADERNA




8 de setembro de 2015

amor de avó (pela saúde da mãe)

Aconteceu hoje pela hora de almoço o resgate das crianças.
Um movimento organizado pela avó no sentido da recuperação mental da mãezinha.































Amanhã já posso ir trabalhaaaaaaaaar!!  :)



4 de setembro de 2015

get shit done

Fui com o Tiago porque já não sei ir a lado nenhum sem suporte emocional. E os dias bons são para ser vividos com os que amamos e nos amam. Fomos em silêncio o caminho todo.
Levar a puta da tese para a entregar.

Muitas vezes duvidei que ia viver este dia e muitos mais tive receio do estado em que lá chegaria.
Eu sei que cada um sabe de si e da sua vida e as nossas coisas parecem-nos sempre maiores e mais importantes porque são nossas. Conseguir chegar ao dia da entrega foi uma luta muito grande e sofrida para mim. Não sou metódica a trabalhar e contrariada faço tudo arrancado a ferros. Mas felizmente sou determinada e decidi que ia fazer isto pelos meus filhos. Quis ser um modelo. Quis dizer-lhes que nós podemos tudo o que quisermos e que as coisas às vezes são muito difíceis mas sempre possíveis. Ainda hoje muitas vezes em dias menos bons penso na minha mãe e na maneira como ela levava a vida à frente e isso é-me inspirador. Quero também passar uma mensagem assim.
Eles foram a minha maior dificuldade na gestão quotidiana e a minha maior força para continuar. Nesta parte final, já não sabia estar com eles nem sem eles e foi tudo uma grande loucura. Dias cheios de coisas habituais dificilmente concretizáveis. E nem falo da atenção que lhes devo. Falo mesmo de coisas triviais da gestão doméstica e logística alimentar! Foi duro. E mau. Mas agora sabem todos como não passar fome e desenrascar algo.
Saímos mais fortes e a nossa bolha está mais impenetrável que nunca. Sinto orgulho desta malta.
Também foi um período de muitas estações e apeadeiros na linha da amizade e todo um rastreio foi feito. Ontem dei por mim a pensar como é impressionante que as pessoas resistam e fiquem. Resistam à ausência, à irritabilidade, ao mau-humor, à falta de filtro. Resistam à quantidade de nãos que ouviram de mim estes anos. Os de sempre aproximaram-se e fortificámos o que existia e outros chegaram para ficar. Muitos desceram em estações e outros saltaram em andamento na passagem por um apeadeiro.
Não sei bem o que restou de mim. Neste momento só me sinto vazia e sem capacidade de pensar ou sentir seja o que for. Espero que o desapego passe. Espero que a malta saiba que debaixo destes escombros todos eu estou lá e não falho. Só me demoro um bocado de vez em quando.

Note-se que hoje apenas aconteceu a entrega provisória. A tese vai ficar estacionada no departamento para os Doutores de lá a lerem e comentarem. Depois a entrega final em formato livrinho todo maricas e até ao final do ano a defesa.
Não é o meu melhor. É o meu melhor nas condições que tenho. E nesse contexto é mesmo o meu mais inacreditável, sofrido e longo melhor.
Mas está tudo bem. Porque acabou.