Fui com o Tiago porque já não sei ir a lado nenhum sem suporte emocional. E os dias bons são para ser vividos com os que amamos e nos amam. Fomos em silêncio o caminho todo.
Levar a puta da tese para a entregar.
Muitas vezes duvidei que ia viver este dia e muitos mais tive receio do estado em que lá chegaria.
Eu sei que cada um sabe de si e da sua vida e as nossas coisas parecem-nos sempre maiores e mais importantes porque são nossas. Conseguir chegar ao dia da entrega foi uma luta muito grande e sofrida para mim. Não sou metódica a trabalhar e contrariada faço tudo arrancado a ferros. Mas felizmente sou determinada e decidi que ia fazer isto pelos meus filhos. Quis ser um modelo. Quis dizer-lhes que nós podemos tudo o que quisermos e que as coisas às vezes são muito difíceis mas sempre possíveis. Ainda hoje muitas vezes em dias menos bons penso na minha mãe e na maneira como ela levava a vida à frente e isso é-me inspirador. Quero também passar uma mensagem assim.
Eles foram a minha maior dificuldade na gestão quotidiana e a minha maior força para continuar. Nesta parte final, já não sabia estar com eles nem sem eles e foi tudo uma grande loucura. Dias cheios de coisas habituais dificilmente concretizáveis. E nem falo da atenção que lhes devo. Falo mesmo de coisas triviais da gestão doméstica e logística alimentar! Foi duro. E mau. Mas agora sabem todos como não passar fome e desenrascar algo.
Saímos mais fortes e a nossa bolha está mais impenetrável que nunca. Sinto orgulho desta malta.
Também foi um período de muitas estações e apeadeiros na linha da amizade e todo um rastreio foi feito. Ontem dei por mim a pensar como é impressionante que as pessoas resistam e fiquem. Resistam à ausência, à irritabilidade, ao mau-humor, à falta de filtro. Resistam à quantidade de nãos que ouviram de mim estes anos. Os de sempre aproximaram-se e fortificámos o que existia e outros chegaram para ficar. Muitos desceram em estações e outros saltaram em andamento na passagem por um apeadeiro.
Não sei bem o que restou de mim. Neste momento só me sinto vazia e sem capacidade de pensar ou sentir seja o que for. Espero que o desapego passe. Espero que a malta saiba que debaixo destes escombros todos eu estou lá e não falho. Só me demoro um bocado de vez em quando.
Note-se que hoje apenas aconteceu a entrega provisória. A tese vai ficar estacionada no departamento para os Doutores de lá a lerem e comentarem. Depois a entrega final em formato livrinho todo maricas e até ao final do ano a defesa.
Não é o meu melhor. É o meu melhor nas condições que tenho. E nesse contexto é mesmo o meu mais inacreditável, sofrido e longo melhor.
Mas está tudo bem. Porque acabou.