12 de junho de 2016

das outras mães como nós

Tenho vindo a pensar cada vez mais nas Anas desta vida. Mulheres como eu. Que têm sonhos, aspirações e que querem concretizar. Seja a vida delas, seja a dos filhos, da família. Mas não podem. Não conseguem. Não consigo entender o arbítrio da fatalidade. Porque me calhou a mim o privilégio de ter uma vida cheia de possibilidades, em que as questões que enfrento são sempre de um nível social, cultural, familiar mais elevado, enquanto que há mulheres que têm uma vida cheia de contrariedades, em que as questões que enfrentam são se vão ter comida para dar aos filhos, se vão ter segurança suficiente para uma noite sossegada. Se vão, sequer, sobreviver. Quanto mais penso nisto, menos compreendo a ordem das coisas. E quanto mais penso nisso menos compreendo porque as Anas, como eu, fazem tão pouco para as Anas que estão hoje algures na Grécia, por exemplo, sem sequer saberem como vão fazer acontecer o resto deste dia. Penso que não se consegue mudar o mundo. Mas consegue-se mudar-nos a nós. Consegue-se transformar a vida, assumindo a responsabilidade que temos perante quem pode menos, porque por alguma razão, assim foi o seu destino. Quero que a minha vida seja útil. Quero usar-me do privilégio que tenho de ter e poder fazer pelas outras mulheres que podiam ser como eu, mas não são. Quando algo não nos sai da cabeça é porque chegou a hora de o concretizar...


7 de junho de 2016

socorro, tenho um (dois) filho adolescente!

Discutir com filhos é uma das piores coisas do mundo. Reformulo, discutir com filhos adolescentes é uma das maiores dores de cabeça que uma mãe pode experimentar. É que uma pessoa tenta compreender, respeitar a individualidade, uma pessoa tenta promover sempre a liberdade e responsabilidade e confiar que vai correr bem, porque eles têm os valores certos no seu core, mas, caramba pá! Há dias mesmo complicados, há fases mesmo nubladas em que uns dias parece que sim, que as coisas até vão correr bem e é preciso é relativizar e deixar o tempo colaborar nesta tarefa, mas depois existem outros de total desespero e perda de controlo da situação. Porque a pessoa também se cansa. Porque a pessoa também é pessoa, pronto. Mas depois (e antes e durante a discussão) a mãe tem o coração pequenino e escuro, porque sabe, vê, sente o caos que vai naquela pessoa que já não é pequena mas também ainda não é grande. Até onde pode ir a compreensão e onde deve começar (continuar?) o estabelecimento de limites? Quando começa a auto-disciplina a ser uma coisa autónoma? E porque raio, complicam eles tanto as coisas? Tenho sempre medo de os perder, tenho sempre presente o terror de um dia o laço de quebrar. Porque isso acontece! Uniões familiares fortes e felizes, que um dia acordam e o filho é um continente e a mãe outro continente e já só há contactos sem abraços. Tenho pensado ultimamente muito nesta questão e tenho tentado ler sobre o assunto e os melhores conselhos, das pessoas especialistas na matéria, são sempre na lógica de saber manter o equilíbrio entre estar e deixar ir. Mas isso é tão difícil de fazer! Ter que ter essa sensibilidade para a leitura correcta dos momentos, tendo todo o resto da vida a correr! Tendo três filhos únicos em disputa por tempo e atenção, mais concentrados em lutas territoriais constantes, do que em aproveitar o momento... Às vezes tenho clara noção que não vi o momento, não reconheci que era ali, naquela conversa, naquele instante. E depois o que fica é a percepção errada. Fica a mágoa. Penalizo-me sempre por isso. Caramba! Eu pensava que dormir mal, mudar fraldas e ouvir alguém a berrar horas infinitas era a coisa mais difícil do mundo. Mas não. Bem-vinda, cara Ana, à adolescência! Só não percebo porque fazem os serviços de saúde tantos cursos de preparação para o parto, uma coisa que dura no máximo 24 horas, e zero cursos de pedagogia, psicologia e gestão de relacionamentos.



4 de junho de 2016

baile de gala

Durante todo o dia pareceu ser um dia muito importante. E era. Baile de finalistas da princesa cá de casa que teve direito a tudo e mais alguma coisa, desde cenas de gaja a mimos de todas as pessoas que a quiseram ver antes de ir para o baile. Dias especiais.


2 de junho de 2016

quartas que são domingos (cheios de sol)

(Leiam este post a ouvir isto.)

Ontem tive um dia sem fim. Acho que ontem tive uma semana inteira num dia. De manhã estive a resolver assuntos profissionais e depois fui almoçar com os meus 3 filhos oficiais mais o meu filho não oficial, o Gui irmão mais velho da Mia e Tiago e padrinho da Madalena. Uma criança de 20 anos. Decidimos ir a um restaurante na zona das escolas porque eles tinham horas de almoço não compatíveis e quando é assim, assentamos arraiais num restaurante das redondezas e eles vão rodando, conforme saem ou entram na escola. O último a chegar foi o Tiago, já o circo estava montado naquela mesa. Todos falam ao mesmo tempo e todos acham que eu consigo ouvi-los individualmente e dar respostas personalizadas (e capazes) a cada um. Os assuntos pegam uns nos outros, perdem-se e temos que voltar ao assunto que ficou pendente há 4 assuntos atrás e acho que só depois, muitas horas depois, é que sabemos se conseguimos reter tudo o que cada um disse. Quando acabou, fui despejar cada um ao sítio para onde ia a seguir e segui eu para Lisboa. Em cima da hora para uma visita de estágio que me fez ir um bocadinho a voar. Decidi ligar à minha mãe no caminho a dizer que ia passar à porta dela, mas sem parar porque estava atrasada. Mas quando passei na saída, virei. Como diz o totó (GPS) saí na saída. Não me pareceu razoável passar à porta da minha mãe e não parar para lhe dar um beijo e fazer o report da situação dos últimos tempos em nanosegundos. Além do mais, as boas companhias fazem-se esperar, certo?
Após a visita de estágio, num 14º andar de uma das torres das Amoreiras, com uma vista absolutamente inacreditável, fui andando para o próximo compromisso. Às vezes, quando vou à cidade grande, e não consigo estar com todas as pessoas com que quero estar, uso a estratégia de me posicionar num sítio qualquer e fazer saber onde estou e a malta vai aparecendo. Ontem foi assim. Combinei com uma amiga nos restauradores e sentámo-nos numa esplanada, eu ela e o primo. Chegamos a ser mais do dobro! A grande maioria meus antigos alunos. Mais uma vez conversas atropeladas, mais uma vez pouco tempo para muito que há a viver. Além dos que estavam sentados à mesa, ainda estive com duas amigas que encontrei casualmente ali pela rua. Bem, não foi bem casualmente. A malta estava a juntar-se e fazia-se hora para o Benjamin Clementine. Tempo de dizer até breve e seguir para o Coliseu com duas das pessoas que me são mais importantes na vida, com um bilhete na mão oferecido por outros 3 grandes amigos com prenda do doutoramento. O concerto. Mãe do céu. Realeza. Há pessoas que não são bem e apenas pessoas. São velhas, carregam séculos de saber e sentir na alma. Ensinam-nos. Fazem-nos pensar. Fazem-nos sentir. Param o tempo e obrigam-nos a enfrentar o que por aqui anda mais ou menos latente. Assim foi Benjamin. Único.
Na saída, um cigarro e uma conversa rápida tiveram que servir de despedida. Esperava-me a estrada durante duas horas. Ainda recebi uma mensagem da malta da esplanada, que se tinha mudado para um bar ao lado do Coliseu na expectativa que eu lá fosse depois do concerto, mas a pessoa já vai para os 40 e fica toda rota com este andamentos. No caminho fiz as contas ao dia. Fiz as contas das conversas. Dos planos que nasceram ontem e que são enormes. Do que ri com esta gente toda. Dos nadas em que eu reparo nos outros e que vou registando quase como se isso fosse uma profissão. E contas feitas, passei por quase todas as pessoas que amo num dia só. Os filhos, a mãe, os alunos, os amigos. E a música. As palavras que estão dentro da música. Uma semana vivida num dia só. Recomponho-me todos os dias. Obrigada a quem manda neste assunto chamado vida por me dar esta gente e estes dias.