(Leiam este post a ouvir isto.)
Ontem tive um dia sem fim. Acho que ontem tive uma semana inteira num dia. De manhã estive a resolver assuntos profissionais e depois fui almoçar com os meus 3 filhos oficiais mais o meu filho não oficial, o Gui irmão mais velho da Mia e Tiago e padrinho da Madalena. Uma criança de 20 anos. Decidimos ir a um restaurante na zona das escolas porque eles tinham horas de almoço não compatíveis e quando é assim, assentamos arraiais num restaurante das redondezas e eles vão rodando, conforme saem ou entram na escola. O último a chegar foi o Tiago, já o circo estava montado naquela mesa. Todos falam ao mesmo tempo e todos acham que eu consigo ouvi-los individualmente e dar respostas personalizadas (e capazes) a cada um. Os assuntos pegam uns nos outros, perdem-se e temos que voltar ao assunto que ficou pendente há 4 assuntos atrás e acho que só depois, muitas horas depois, é que sabemos se conseguimos reter tudo o que cada um disse. Quando acabou, fui despejar cada um ao sítio para onde ia a seguir e segui eu para Lisboa. Em cima da hora para uma visita de estágio que me fez ir um bocadinho a voar. Decidi ligar à minha mãe no caminho a dizer que ia passar à porta dela, mas sem parar porque estava atrasada. Mas quando passei na saída, virei. Como diz o totó (GPS) saí na saída. Não me pareceu razoável passar à porta da minha mãe e não parar para lhe dar um beijo e fazer o report da situação dos últimos tempos em nanosegundos. Além do mais, as boas companhias fazem-se esperar, certo?
Após a visita de estágio, num 14º andar de uma das torres das Amoreiras, com uma vista absolutamente inacreditável, fui andando para o próximo compromisso. Às vezes, quando vou à cidade grande, e não consigo estar com todas as pessoas com que quero estar, uso a estratégia de me posicionar num sítio qualquer e fazer saber onde estou e a malta vai aparecendo. Ontem foi assim. Combinei com uma amiga nos restauradores e sentámo-nos numa esplanada, eu ela e o primo. Chegamos a ser mais do dobro! A grande maioria meus antigos alunos. Mais uma vez conversas atropeladas, mais uma vez pouco tempo para muito que há a viver. Além dos que estavam sentados à mesa, ainda estive com duas amigas que encontrei casualmente ali pela rua. Bem, não foi bem casualmente. A malta estava a juntar-se e fazia-se hora para o Benjamin Clementine. Tempo de dizer até breve e seguir para o Coliseu com duas das pessoas que me são mais importantes na vida, com um bilhete na mão oferecido por outros 3 grandes amigos com prenda do doutoramento. O concerto. Mãe do céu. Realeza. Há pessoas que não são bem e apenas pessoas. São velhas, carregam séculos de saber e sentir na alma. Ensinam-nos. Fazem-nos pensar. Fazem-nos sentir. Param o tempo e obrigam-nos a enfrentar o que por aqui anda mais ou menos latente. Assim foi Benjamin. Único.
Na saída, um cigarro e uma conversa rápida tiveram que servir de despedida. Esperava-me a estrada durante duas horas. Ainda recebi uma mensagem da malta da esplanada, que se tinha mudado para um bar ao lado do Coliseu na expectativa que eu lá fosse depois do concerto, mas a pessoa já vai para os 40 e fica toda rota com este andamentos. No caminho fiz as contas ao dia. Fiz as contas das conversas. Dos planos que nasceram ontem e que são enormes. Do que ri com esta gente toda. Dos nadas em que eu reparo nos outros e que vou registando quase como se isso fosse uma profissão. E contas feitas, passei por quase todas as pessoas que amo num dia só. Os filhos, a mãe, os alunos, os amigos. E a música. As palavras que estão dentro da música. Uma semana vivida num dia só. Recomponho-me todos os dias. Obrigada a quem manda neste assunto chamado vida por me dar esta gente e estes dias.
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