Tenho vindo a pensar cada vez mais nas Anas desta vida. Mulheres como eu. Que têm sonhos, aspirações e que querem concretizar. Seja a vida delas, seja a dos filhos, da família. Mas não podem. Não conseguem. Não consigo entender o arbítrio da fatalidade. Porque me calhou a mim o privilégio de ter uma vida cheia de possibilidades, em que as questões que enfrento são sempre de um nível social, cultural, familiar mais elevado, enquanto que há mulheres que têm uma vida cheia de contrariedades, em que as questões que enfrentam são se vão ter comida para dar aos filhos, se vão ter segurança suficiente para uma noite sossegada. Se vão, sequer, sobreviver. Quanto mais penso nisto, menos compreendo a ordem das coisas. E quanto mais penso nisso menos compreendo porque as Anas, como eu, fazem tão pouco para as Anas que estão hoje algures na Grécia, por exemplo, sem sequer saberem como vão fazer acontecer o resto deste dia. Penso que não se consegue mudar o mundo. Mas consegue-se mudar-nos a nós. Consegue-se transformar a vida, assumindo a responsabilidade que temos perante quem pode menos, porque por alguma razão, assim foi o seu destino. Quero que a minha vida seja útil. Quero usar-me do privilégio que tenho de ter e poder fazer pelas outras mulheres que podiam ser como eu, mas não são. Quando algo não nos sai da cabeça é porque chegou a hora de o concretizar...
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