10 de fevereiro de 2015

a ana foi a paris

Descansar do barulho do dia-a-dia.
Deixei as crias um bocado contrariadas com a ideia e fui. Ao início choviam sms com declarações de amor eterno e nos primeiros telefonemas o tom era fúnebre. Depois passou. Começou a ser mais alegre, a contarmos o dia uns dos outros e a mandar mensagens sempre que havia wi-fi.
Acho que percebemos que o espaço de cada um faz falta e é bom para todos.
Foi das melhores viagens da minha vida e percebi como preciso mesmo de parar de tempo a tempos, preciso mesmo do silêncio em que vivi durante 4 dias e como levei bastante tempo a conseguir descomprimir de tudo o que deixei por cá. Dias puros.
Descobri também como é a vida das pessoas sem filhos. Há mesmo tempo para tudo e mais alguma coisa! Vi os museus sem ter que arrancar a Madalena das esculturas, apreciei o que quis apreciar durante o tempo que me apeteceu sem ter que berrar pelo fim das embirrações constantes e audíveis da Mia e do Tiago. Respirei.
Ao quarto dia acordei meio sem vontade, mas ainda tinha planos que me faltavam cumprir e lá fui. No metro aconteceu a ruína do dia: a Madalena telefona-me antes de ir para a escola "só para dar um beijinho". Desde esse momento reparei mais em todas as crianças com que me cruzava na rua do que na rua em si. Decidi sentar-me no Jardim do Luxemburgo a pensar neles um bocadinho para poder depois voltar a viver o momento novamente. Resultou.
Não é fácil este equilíbrio entre a Ana e a mãe destas três criaturas. Até porque estou sempre tão atraída pelo que me falta viver quanto estou dedicada a fazer parte da vida destas três pessoas.
Acho que todas as mães vivem esse drama, a culpa que parece instalar-se por continuar a ser também mulher, por continuar a ser uma pessoa que está a fazer o seu caminho. Percebi que não posso, nem vou, desistir de mim. Acredito que o que sou e como sou é também educar.
Hoje passei parte da tarde com o Tiago que, curiosamente, me contou que no teste de Português tinham que falar sobre a pessoa que era o seu herói e, disse ele: "Mãe, assim que vi a pergunta soube logo que era de ti que queria falar." Foi bom. A resposta vai chegando e sinto que estou a contribuir para que eles cresçam com memórias de afectos, de presença e que se tornem pessoas melhores. É esse o meu objectivo maior. E por acreditar nisso, às vezes forço-me a ir e quando vou descubro sempre a minha essência. 'Curiouser and curiouser!'*.





*Alice's Adventures in Wonderland, Lewis Caroll

Nota final: Tenho algumas fotos que tirei no Instagram, onde me chamo anacilajose. Querendo, passem por lá.


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