27 de fevereiro de 2015

da vida doméstica

Se há pessoa que não nasceu para a vida doméstica, essa pessoa sou eu.
Vim sem as asas de fada do lar e não há maneira de as fazer crescer. A minha casa está arrumada, mas não é um museu. Está limpa, mas não passa no teste do algodão.
Eu faço mas a mandar vir, a protestar. A sofrer, no fundo.
Das áreas domésticas, aquela em que sou mesmo uma vergonha, é a cozinha.
Perguntem-me o que tenho na despensa neste momento. Não sei.
Perguntem-me o que vou fazer para o jantar hoje. Não sei.
Basicamente, eu só faço aquilo a que se chama refeições, quando estão cá os miúdos. Quando estou sozinha, como o que encontrar pelo caminho quando me lembrar que tenho fome.
Ora, às vezes pesa-me a consciência por tanta comida processada ou comprada feita. Por não haver a sopinha da mamã e essas coisas que todos guardamos na memória dos afectos da infância. Para além deste motivo mais romântico, não sei se têm noção do que come um puto de 11 anos e uma miúda de 13, mas é de fugir.
Aqui há uns tempos, comprei uma panela de pressão e tenho andado em explicações com a minha amiga Maria José, que me vai ensinando a fazer coisas. Não tem corrido mal. De tal forma, que fiquei a pensar que, se calhar, podia dar um salto de fé. E de pensar a comprar todas as quinzenas um cabaz com produtos hortícolas foi um passo rápido, irreflectido e inconsequente. Eles, que se chamam Terra do Vale, chamam-lhe cabaz, mas podiam dizer-nos a verdade: vêm despejar na nossa cozinha um tractor de coisas que o comum mortal não sabe o que são.
Da primeira vez, até medo senti e comecei a ventilar. Mas depois de identificadas as hortaliças com o apoio de terceiros, resolvi o problema colocando no google o seu nome + receita. Não correu mal. Tive amplas críticas positivas dos meus clientes.
Agora já estou treinada. Vem o cabaz, fotografo as espécies, envio à minha mãe para que lhes dê um nome e o resto o google sabe.
Coisas boas deste cabaz? Tantas. Mais saudável, sabe melhor, dura mais tempo sem se estragar, é mais barato, traz azeitonas e pão alentejano...Mas o que eu gosto mesmo é de trazer cenouras como nunca as vemos. Olhem só. Foi uma festa quando vimos as cenouras!

(Entretanto, descobrimos que temos que arranjar os agriões, os espinafres e acelgas. Já temos linha de produção montada e estamos a descobrir bons momentos passados a quatro na cozinha.)





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