Quase no final do 1º período o Tiago chegou a casa com a notícia de que ia ter 2 à disciplina que tem um nome que eu não sei qual é, mas que tem a ver com trabalhos manuais. Não foi surpresa, mas quando fui perceber a razão, tinha a ver com ele não ter feito nenhum, repito, nenhum trabalho dos que devia ter feito. Levou um enxovalho dos grandes, que primeiro eu mando vir e só depois faço perguntas.
Na fase das perguntas, percebi que afinal os trabalhos que ele não fez, deviam ter sido feitos em casa. Pois. Casa. Como quem diz, o sítio onde ele mora, dorme e assim.
Na escola ele não soube bem explicar o que fazia. Porque nesta disciplina ele não faz, sobrevive.
Mas ainda havia esperança! Se levasse os trabalhos todos feitos após o fim-de-semana, a professora dava-lhe um três. Boa!
Um pequeno senão, o Tiago é uma nódoa nessa disciplina. Segundo senão, eu consigo ser pior que ele. Terceiro senão, ele ia de acampamento com os escuteiros nesse fim-de-semana.
Mas OK. Eu sou uma pessoa muito motivada. Era preciso fazer um presépio com material reciclado, decorar uma bola de esferovite para a árvore de natal, montar e fazer um tear daqueles que depois dá para fazer malas e assim e fazer algo em barro. Pouca coisa, portanto.
Liguei a outra mãe que me explicou como se fazia o tear e no que consistia o tal do presépio e onde se comprava a bola. O Youtube ensinou-me a fazer um elefante em barro, que ficou tão lindo que até o pintei com o cinzento dos ferros da varanda. Mas afinal não era um elefante, era um cesto. Fiz o cesto.
O tear, fizemos todos. Madalena incluída. Passar a agulha um em cima outro em baixo não tem grande ciência. A bola fiz eu, o presépio também.
A Mia reclamou que não era justo que ele devia ter negativa para aprender. Mas, aprender o quê? Aqui em casa ninguém sabe da arte para lhe ensinar e, pelos vistos, na escola também não.
Ao contrário de muitas mães que juram a pés juntos que foram os filhos que fizeram aquelas instalações dignas de estar em Serralves, eu assumo que sou eu que faço (ou tento). Aliás, a professora deve saber isso, só pode fingir que não vê ou não sabe. Ou não quer saber, quer mesmo é que não a chateiem. Era impossível ter sido o Tiago fazer alguma daquelas coisas, com a qualidade ainda que medíocre que as coisas tinham, claramente não havia a menor possibilidade de ter sido o Tiago a fazê-las.
Lá teve três.
E eu pensava que tinha acabado, que agora já era na escola que lidavam com a coisa.
Claro que não.
Desta vez, o Tiago desenvolveu a habilidade de me avisar em tempo útil sobre as coisas que tem que fazer "em casa" e levar feitas para a escola. Hoje, levei o cartão duplex que comprei o outro dia para a minha escola e uma amiga minha de design cortou-o e dobrou-o para fazer a caixa que ele tinha que fazer e ainda lhe desenhou a esquadria que era preciso fazer num A3 para o cartaz. Afinal, chego a casa e não era uma esquadria, embora diga esquadria na "Ficha Informativa e de Trabalho". Era só mesmo uma moldura com margem de 1 cm. A professora deve ter achado que seria mais intelectual chamar-lhe esquadria.
O mais giro da Ficha Informativa e de Trabalho é que tem imagens ilustrativas que não se percebe o que lá está e diz coisas como "O método de resolução de problemas, que é composto por 5 etapas: problema, investigação, projecto, realização, avaliação."
Podia acrescentar a seguir, "mas não me apetece explicar o que é isso e o que compõe cada uma das etapas, por isso levem esta ficha e os vossos pais, que não têm mais nada para fazer, nem nenhuma outra profissão, nem mais filhos, nem se interessam por estar e brincar convosco, que se desenrasquem."
E esta tarde, enquanto estou a tentar terminar uma parte importante do doutoramento, porque tenho prazos e coisas dessas a cumprir, estou aqui com o Tiago a mandar vir com o método (só a palavra método ao lado de palavra Tiago já tem a sua piada) dele para decorar o raio da caixa e a ver se o convenço a fazer o cartaz enquanto lhe dou uma aulinha sobre elementos publicitários mas, apenas e só, porque calha a ser a minha área. Os outros miúdos devem fazer um desenho qualquer manhoso, que serve na mesma, porque o que importa é atirar bastante areia para os olhos da Srª Professora. Aprender fica para outra oportunidade.
Entretanto o Tiago foi fazer para o quarto que eu já estava cheia de brotoeja. Voltou quando percebeu que sozinho não ia a lado nenhum, ouviu a explicação, trocámos ideias, expliquei o método, mensagem e planificação criativa e ele até se lembrou de uma coisa engraçada e está a fazê-la todo contente.
De nada, Srª Professora. Aqui estou sempre às ordens.
(Reparem como consegui escrever toda uma publicação estando furiosa e sem dizer um único palavrão.)
Decidimos decorar a caixa com banda desenhada. O tempo que ele leva a ler as tiras é maior que o que leva a cortar e colar.
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