14 de setembro de 2022

bittersweet

Nada está igual.

Claro que seis anos podem apenas passar e pouco ou nada se altera na vida, mas no nosso caso, tudo mudou. A nossa família viu-se a braços com tantas mudanças e desafios, que se transformou noutra coisa, que ainda não sabemos muito bem definir.

Os miúdos cresceram. Em tamanho, e em personalidade. 

Um dos grandes desafios tem sido o ninho a esvaziar e esta mãe a tentar superar esse imenso vazio que fica. Depois de uma vida inteira a sermos apenas os quatro, numa relação plena, agora tenho dois quartos permanentemente vazios, habitados poucos dias no ano e nunca o tempo suficiente para trazer algum enchimento ao que costumava ser.

E essa será a luta. O que costumava ser já nao existe. Agora há outra coisa, a que nos estamos muito lentamente a habituar. A grande dor de crescimento é esta. A saída de casa. As asas que se ganham e os dias que se vivem, cada um no seu percurso individual.

Por um lado, claro que é maravilhoso ver isto a acontecer. Foi para isto que nos preparámos e a educação que lhes dei, serviu. Para eles serem adultos neste mundo. Adultos intervenientes, atentos, envolvidos. Capacitados para essa coisa tão em desuso, chamada pensar. E estou imensamente orgulhosa do caminho. Seguem, nem sempre firmes e seguros, mas seguem, perseguindo aquilo em que acreditam.

A Mia é finalista de Direito, na Clássica, e está este semestre em ERASMUS, em Barcelona. Pelo meio, já foi de várias associações, do Senado da Universidade de Lisboa, e fez alguns voluntariados. Continua exigente, determinada, e imensamente sensível.

O Tiago está no ISCTE. Envolvido até aos ossos na vida académica, descobriu-se entre iguais, luta continuamente por encontrar o seu caminho e dar os passos necessários para o percorrer.

A Madalena está no liceu. Cheia de tudo o que uma adolescência deve ser. Amigas, festas, sonhos, listas de associações de estudantes, planos infinitos, música e mais festas e mais amigos.

Por outro lado, custa horrores. Não vale a pena dourar a pílula. Uma boa mãe torna-se desnecessária. Fui (sou) uma boa mãe. Sou desnecessária. Claro que continuo a dar suporte emocional e a estar muito presente na vida deles, mas convenhamos, nem chega a metade do que era. Sobra muito tempo. Sobram muitas horas. Estou eu, comigo. Estou eu, sem saber o que fazer comigo. 

Sinto-me como que chegada ao fim de uma coisa que era a minha identidade e o que vem a seguir não me interessa muito, não me chega, não me entusiasma. Não me cresce. E essa tem sido a luta. Encontrar-me.



(ilustração encomendada à Marta Nunes )






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