Embora continue a trabalhar mais do que devia, não ter o PhD sempre dentro de mim tem produzido efeitos muito positivos. Acho que os meus filhos têm a mãe de regresso. A semana passada consegui ter paciência e disponibilidade para fazer o jantar quase todos os dias e só comprei feito um dia! A casa começa a estar sob o meu controlo, muito embora ainda tenha que recorrer à minha empregada algumas vezes. E à minha mãe quando acende a sirene vermelha. Basta um desvio da normalidade e ainda vai tudo pelo cano abaixo. Estou colada a cuspo. Mas colada!
O Tiago voltou a conseguir organizar-se e estudar e começo a perceber o que a minha ausência provocou. Também noto na Madalena o meu impacto. Está novamente segura, determinada e alegre. A alegria que tinha escorregado para as birras constantes voltou. Vejo o que a Mia cresceu e às vezes apetece-me dizer-lhe que já pode voltar a ter 14 anos novamente, que eu tomo conta (de mim e deles) a partir daqui, mas acho que isso já não volta mais atrás.
Aliás, nada volta atrás. Mudámos todos. Estamos os quatro maiores do que éramos antes. E se eu perdi muita energia e disponibilidade eles perderam seguramente mais que eu. Noto quando me perco a pensar_como eles dizem_ na verdade quando me perco porque não consigo continuar concentrada no que estava a fazer ou falar, eles calam-se logo e fazem sinais aos outros para pararem de fazer barulho e ficam à espera que eu volte. Nada apaga o preço deste doutoramento para a minha família. Nada.
Mas sinto-me a recuperar a vida, passo a passo. Muito mais lento do que queria e do que pensei que seria. Já deixei todas as drogas que tomava há dois meses, mas ainda sinto os efeitos secundários que me deixaram. E não vou comentar os cabelos brancos, as olheiras que parecem crónicas e o ar permanente de quem acabou de sair do cú do burro.
Está por vencer a falta de vontade para os outros. Para estar com eles, para os ouvir, para me rir e descontrair e querer sair só para sair, sem mais nada. Sem sentir ansiedade por estar ali. A minha escolha continua a ser estar sozinha todo o tempo possível que conseguir. E quando isso acontece a casa continua a estar em silêncio e na penumbra. Um dia volto. Esse dia ainda não chegou.
Mas para a minha família, este fim-de-semana foi o melhor dos últimos tempos. Consegui fazer tudo sem me irritar com coisas de nada e até consegui estar um bocadinho na varanda a apanhar sol sem adormecer em milésimos de segundos.
Domingo ao final do dia decidimos que merecíamos ir patinar no gelo! A Madalena prometeu que se ia portar bem. Basicamente, prometeu que ia deixar-nos patinar sem que a tivesse que tirar da pista a meio de uma crise existencial e sairmos dali rapidamente, sempre actuando como se fossemos uma família normal, antes que alguém chamasse a protecção de menores.
Apanho os cacos todos os dias e tento colmatar danos, reverter coisas que foram por outro lado não tão esperado. Na verdade, a estrutura abanou e as coisas caíram da prateleira. As pessoas que me amam foram apanhando e voltaram a meter no lugar. Durante dois anos viram o pior de mim quase todos os dias e esperaram. Esperaram pacientemente por mim. É assim o amor.
Porra. Parece que foste buscar isto mesmo ao fundo. Felizmente temos quem ainda nos queira depois de perdermos o Norte: esses miúdos são qualquer coisa :)
ResponderEliminarsão a minha salvação desde que nasceram :)
Eliminare ontem foi a primeira vez consegui estar bem, mesmo nos momentos em que ainda me senti a resvalar, desde.....pffffff. nem me lembro. :)
Já me puseste a chorar e a pensar...
ResponderEliminarBeijo
Amo-te muito mana velha